Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Anderson Lopes Miranda sentiu na pele o drama de não ter casa para dormir, o que vestir para se proteger do frio e comida quente na hora da fome. Depois de viver 15 anos na rua, ele conseguiu formar família, ter um trabalho e hoje é representante do Movimento Nacional da População de Rua, em São Paulo.
“Sempre somos procurados para trabalhos de doutorados e mestrados, mas queremos ser procurados por órgãos engajados numa política que atenda de forma coletiva os problemas específicos que cada dos moradores de rua sofre”, cobrou Miranda hoje (6) durante a abertura do Seminário de Segurança Pública, Direitos Humanos e População em Situação de Rua, na Academia de Polícia Civil do Estado de São Paulo.
O objetivo do encontro é conscientizar os policiais civis, militares e guardas municipais de São Paulo sobre os direitos dos moradores de rua e a melhor forma de abordá-los. Esse trabalho de mudança de comportamento na área de segurança pública será desenvolvido por meio de cursos, seminários e encontros entre esses servidores e especialistas no atendimento social voltado a essa população.
O assessor especial da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Ivair Alves dos Santos, ressaltou que a expectativa é de que a médio e longo prazo haja uma mudança de mentalidade em relação à população de rua. Segundo Santos, o evento deu o 'pontapé inicial' para que essa medida se estenda a outras localidades do país, como as regiões metropolitanas de Porto Alegre, Rio de Janeiro, Recife que também convivem com o mesmo problema.
Ele informou que, na capital paulista, cerca de 14 mil pessoas vivem nas ruas. “É preciso fazer uma discussão para mostrar que essa população tem laços familiares, trabalha catando latinhas, papelão como flanelinhas e que por uma séria de contingências foi levada a essa situação”, disse Santos.
O assessor especial da Secretaria de Direitos Humanos citou dados de uma pesquisa encomendada pela prefeitura de São Paulo à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) que constatou que 80% da população de rua trabalha. “Temos de buscar um olhar de direitos humanos para aquelas pessoas que estão abaixo da linha de pobreza.” Na avaliação dele, a situação exige medidas urgentes.
“Nossa proposta é de que professores da Academia de Polícia tenham conteúdo para transmitir aos policiais que moradores de rua têm direitos e devem estar a salvo de crueldades, opressões e maldades”, defendeu o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, lembrando do massacre ocorrido em agosto de 2004, em São Paulo, no qual morreram sete moradores de rua.
O coordenador do Centro de Direitos Humanos da Polícia Civil da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Tabajara Novazzi Pinto, disse que é interesse da corporação desenvolver um trabalho para fugir do estereótipo criado para esse segmento da sociedade. “Nós olhamos os moradores de rua como vítima, mas muitos os veem como paisagem, poste, arbustos e têm os que não querem ver”.
Novazzi declarou que existem estudos que mostram que moradores de rua raramente são autores de delitos. “Na esmagadora maioria das vezes são vítimas de violência, como agressões e até homicídios”, afirmou.
Edição: Lílian Beraldo