Carolina Gonçalves
Enviada Especial
Paraty - Se os Estados Unidos fossem hoje um personagem dos quadrinhos de Robert Crumb, o cartunista garante que a ilustração não teria uma aspecto muito agradável. A declaração foi feita durante a 8ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
“Teria uma cara feia, porque os Estados Unidos se tornaram um estado corporativo fascista, o pior no mundo. [O presidente Barack] Obama tem boas intenções, mas não acredito que possa fazer muito para mudar as coisas por lá, porque os poderes e potências que vêm governando aquele país há tantos anos já fazem parte daquilo. Eles vão destruir o planeta e nós estamos todos encrencados”, alertou Crumb, que foi símbolo da contracultura nos anos 1960 e 1970 e diz ter vergonha de se declarar americano. Robert Crumb mora na França há quase duas décadas com a família.
Da mesma maneira como classifica como museu a exposição de suas ilustrações, Robert Crumb definiu sua participação na Flip: “Participar dessa festa também é bizarro. Ainda me vejo como um cartunista, que é sempre negligenciado pelo mundo literário, um tipo que não deve ser levado a sério. Perguntei a um escritor brasileiro porque eles queriam a gente aqui e ele disse que há uma coisa de negócio, já que as editoras estão vendo os quadrinhos como algo sério e viável”.
Mesmo depois de receber a explicação, Robert Crumb, quando fala sobre o mercado em que atua, lembra que é difícil encontrar editoras preparadas para apostar nas histórias em quadrinhos, sem saber se é algo vendável.
O cartunista, que transpôs obras de Franz Kafka, Charles Bukowski e Philip K. Dick para os quadrinhos, reconhece que existe um apelo comercial muito forte atualmente, mas acredita que algumas indústrias pequenas abrem espaço para os trabalhos independentes e originais.
Crumb disse que, em conversa com jovens cartunistas, percebe como é difícil o acesso a esse universo. “Você tem que ter um emprego de verdade durante o dia, para pagar as contas ou viver com a mãe”, definiu o cartunista.
Sobre a reprodução digital dos cartoons, Crumb é taxativo: “Sou um artista do século 20, uso a caneta e gosto do papel. Não tenho nenhum interesse em tecnologia moderna”.
Edição: Antonio Arrais