Gilberto Costa*
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Termina hoje (6) na Universidade de Brasília (UnB) o 3º Encontro Nacional de Pesquisa em Educação no Campo. Mais de 300 pesquisadores participam e apresentam seus trabalhos no evento, que ainda reúne representantes de Cuba, da Bolívia, do Paraguai, México, Peru, da Argentina e Venezuela.
Além de intelectuais vinculados às faculdades de Educação, participam do encontro pessoas ligadas a movimentos sociais, como o dos trabalhadores rurais e indígenas. “Foi da demanda apresentada pelos movimentos sociais que nasceram as políticas de escolarização dos povos do campo”, disse Anna Isabel Costa Barbosa, professora de licenciatura no campo, do campus da UnB em Planaltina (DF).
Segundo ela, a escola no campo é caracterizada pelas turmas multisseriadas, docentes sem formação e precariedade de funcionamento. Apesar dessa realidade e da importância social, há pouco interesse no Brasil em pesquisar a escola no campo. “A população do campo está historicamente fora do pensamento educacional brasileiro. Nas faculdades de Educação, o sujeito do campo não é enxergado. A visibilidade é uma coisa muito recente na universidade”, disse à Agência Brasil.
Anna Isabel lembrou que a universalização do ensino no país e a melhoria dos indicadores nacionais de qualidade da educação passam pela escola do campo, no entanto, “as crianças acessam a escola e são excluídas por dentro, com a reprovação, com a multirrepetência. A universalização precisa se garantir em uma educação de qualidade e efetiva”, assinalou.
A professora apontou ainda a nucleação - reorganização do parque escolar público, com a concentração de várias escolas sob a coordenação unificada de uma -, que dificulta o acesso, aumenta a distância entre a casa dos alunos e a sala do aula e exige transporte escolar. Para Anna Isabel, é preciso também investir na formação de docentes que sejam do campo.
A mesma opinião tem Ivandice de Souza Corrêa, aluna do 4º semestre de licenciatura no campus da UnB. Para ela, pode haver barreiras culturais entre os professores que têm origem nas cidades e os alunos do meio rural. “A gente estudava no campo, mas não era uma escola do campo. As escolas que existiam no campo eram escolas urbanas no campo”, afirmou, lembrando-se do tempo em que fazia o ensino fundamental.
O colega Vitor Coelho dos Santos acrescentou que além de professores do campo e de resolver problemas de instalações, equipamentos e materiais das escolas rurais, as secretarias de Educação têm que garantir o acesso à internet. “Hoje, toda a tecnologia da cidade a gente pode ter no campo”.
Existem no Brasil mais de 83 mil escolas rurais (42% do total de escolas do país), com mais de 6,6 milhões de matrículas (12,7%). O encontro sobre educação rural é organizado pelo Observatório de Educação do Campo, formado por sete universidades federais, e tem o apoio dos ministérios da Educação e do Desenvolvimento Agrário.
*Colaborou Amanda Cieglinski//Edição: Graça Adjuto