Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Autores de crimessexuais costumam usar estratégias para seduzir e atrair crianças eadolescentes. Por isso, os pais devem estar sempre alerta em relaçãoàs pessoas que se aproximam de seus filhos.
“O abusador é sempre amigo.Está dentro de casa, é uma pessoa dócil. Qualquer um põe a mãono fogo por ele, que não deixa rastro. É diferente do estuprador,que é truculento”, alerta o senador Magno Malta (PR-ES),presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado queinvestiga casos de abuso e exploração sexual, pornografia infantile tráfico de crianças e adolescentes.
De acordo com a delegada deProteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Brasília, GláuciaCristina Ésper, os pedófilos “não têm cara de tarado, não sãoagressores natos e estão muito próximos”.
“Opedófilo frequenta os lugares onde há muita criança, gosta decomer em fastfood,lê coisas de criança, dá presentes e joga videogame. Geralmente,ele não teve uma infância bem resolvida. Tem uma vida meio infantiltambém, e estar naquele meio facilita pegar a sua presa”, diz adelegada.
Segundo a historiadora e sociólogaAdriana Miranda, as redes de exploração sexual também fazem uso deatrativos para se aproximar das crianças. “O que tem se observadoé que dentro da rede de exploração a pessoa que se aproxima dacriança é sempre uma mulher bem vestida, que tem carro, celular eaparelho MP3.”
Para a psicóloga Karen MichelEsber, o autor de violência sexual usa várias formas para seaproximar da vítima: desde a sedução até a força física. Aespecialista chama a atenção para a educação das crianças. “Sehouvesse mais conversa, existiria menos abuso”, afirma a psicólogaao ressaltar que as crianças deveriam ser educadas para prevenir,identificar e avisar alguém de confiança sobre o assédio,inclusive quando ocorre dentro de casa.
De acordo com a especialista, ascrianças precisam saber distinguir situações de assédio e estarpreparadas, inclusive, para a tentativa de abuso familiar. “Essetoque que meu pai está fazendo, não é o de que eu gosto. Então euvou falar com a minha mãe que, naquele dia, me disse que se eusentisse o que não gosto, eu deveria falar com ela.”
A orientação da psicólogaMônica Café é que os pais conversem mais sobre sexualidade comseus filhos e trabalhem a autonomia da criança. “O que vai impediro abuso é a autonomia da criança. Ela vai ter que dizer não. Osautores de violência sexual vão às crianças que são maisfrágeis.”
Karen Asber confirma que ainiciativa e o protagonismo das crianças podem salvá-las. Ela selembra de uma entrevista que fez com um pedófilo preso em Goiâniaque afirmou: “você acha que eu abuso de qualquer menino? Eu abusodo quietinho e reprimido. O espertinho vai contar”.
De acordo com Valéria Brain,também psicóloga, o comportamento da criança muda após o abuso.“Piora o rendimento escolar, ela passa a ter medo de certosadultos, tem pesadelo, regressão de comportamento [como fazerxixi na cama] ou pode até mesmo ficar com a sexualidadeexacerbada.”
A psiquiatra do HospitalUniversitário de Brasília (HUB) Lia Rodrigues Lopes admite que asvítimas de violência sexual têm mais riscos de desenvolvertranstornos mentais, como depressão, humor bipolar e ansiedade, e,no futuro, reproduzir os abusos. “Existe uma maior chance, sim, deo pedófilo de hoje ter sido a vítima no passado”, afirma.