Ex-aliciador de adolescentes vira testemunha protegida no Maranhão

05/02/2010 - 23h22

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Cortada pelaBR-010 (Belém-Brasília) e pela BR-222, a cidade deAçailândia, no oeste do Maranhão, está narota da exploração sexual de crianças eadolescentes, identificada em mapeamento da Polícia RodoviáriaFederal (PRF) e da Organização Internacional doTrabalho (OIT). Publicado em novembro, o levantamento calcula que háum ponto de exploração sexual de crianças eadolescentes a cada 26,7 quilômetros de estradas federais. Odado tem como base flagrantes e denúncias recebidas pela PRF.

De acordo com o mapeamento, ospontos onde há mais casos de exploração sexualinfantojuvenil são postos de combustível, restaurantes,bares e boates, localizados especialmente na periferia de cidades poronde passam rodovias com grande fluxo de transporte. Esse é ocaso de Açailândia.

Duas comissõesparlamentares de inquérito da Assembleia Legislativa doMaranhão, uma concluída em abril de 2004 e outra emandamento, apontam para existência de uma rede de exploraçãona cidade, formada por donos de boate, comerciantes, políticose advogados.

A atual CPI tem como testemunhaFabiano Souza Barbosa que em 2005 apresentou à PolíciaCivil uma agenda com nome de 50 homens da cidade para quem aliciavamulheres e duas adolescentes.

Ementrevista à Agência Brasil,Barbosa disse que, além dos programas marcados portelefone, o aliciamento era feito na Praça do Pioneiro, ondeadultos e jovens da cidade costumam se encontrar para fazer um lanchee escutar o som dos carros estacionados.

Depois das 22h, quando éproibido barulho na praça, os homens levavam as meninas paraboates e motéis da região.

Hojecom 26 anos, Barbosa conta que quando era adolescente frequentava aPraça do Pioneiro e as boates da cidade. Além desseslugares, as lan houses também são pontos dediversão e exploração sexual. Segundo ele,nesses locais ocorrem festas fechadas, chamadas de corujão.Fabiano diz que conheceu as duas adolescentes por meio de fotostiradas durante uma dessas festas e nas quais elas apareciam nuas.

Barbosa e as adolescentes estãohoje no Programa de Proteção a Vítimas eTestemunhas Ameaçadas (Provita).

De acordo com a presidente da CPI,a deputada estadual Eliziane Gama (PPS-MA), as duas meninas receberamofertas de R$ 10 mil para se calar e sair da cidade.

“Açailândia éum caso muito grave porque as pessoas envolvidas esnobam a Justiça”,diz a deputada que, recentemente, recebeu ameaças de morte.

O ex-aliciador e agora testemunhanão acredita em punição dos envolvidos. “Comosempre, vai dar só um choque, depois começa tudo denovo”, diz Barbosa.

Denúncias sobre abusosexual no Maranhão podem ser feitas pelo telefone da CPI: (98)3131 4240 ou por meio da Ouvidoria-Geral da Assembleia Legislativa:0800 169800.