Obama toma posse com promessa de diplomacia ativa na América Latina

20/01/2009 - 5h32

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Caso cumpra suas promessas de campanha, o novo presidente dos EstadosUnidos, Barack Obama, que toma posse hoje (20), adotará uma “diplomaciaativa” na América Latina desde seu primeiro dia de mandato. “GeorgeBush nas Américas foi negligente com nossos amigos, ineficaz com osadversários, desinteressado dos problemas que importam aoslatino-americanos e incapaz de avançar nos interesses da região”, diziaObama em seu site de campanha.Ao menos no discurso, onovo governo norte-americano promete outra postura em relação aocontinente. A proposta é de uma diplomacia ativa, mas voltada àcooperação.“Hillary Clinton tem usado uma expressãointeressante. Diz que os Estados Unidos, em vez de apresentaremreceitas prontas para serem implementadas na região, querem umacooperação que seja a partir de um diálogo em que sejam identificadasas aspirações dos povos latino-americanos”, resume o embaixador doBrasil em Washington, Antonio Patriota. “Eles tomaram cuidado emreconhecer  que existe uma base sólida para que as relações sejamampliadas e aprofundadas”, ressalta.Antecessor de Patriota emWashington, o embaixador Roberto Abdenur também aposta em um novopatamar de relações com a América Latina e o resto do mundo. “Em seusdiscursos de campanha, Obama deu claramente a mensagem de queprocederia uma radical correção de rumos na política externa em geral”,avalia.  No caso da América Latina, Abdenur ressalta a perda deinfluência dos Estados Unidos na região até mesmo antes do governo deGeorge W. Bush. Primeiro, porque os interesses prioritários seconcentraram em outras partes do mundo, sobretudo no Oriente Médio.Segundo, devido a “efervescências políticas” que não podem sercontroladas ou influenciadas pelos Estados Unidos. Como exemplo, ele citaa Venezuela, a Bolívia, o Equador, a Nicarágua e o Paraguai. “Os Estados Unidos,hoje, não têm mais, a meu ver, condições de exercer a liderança naAmérica Latina”, acredita Abdenur. Na sua avaliação, foiinadequado o título do principal pronunciamento de Barack Obama sobrea América Latina: Renovando a liderança norte-americana nas Américas.“Com todo o respeito e com os bons votos que dedico ao Obama, acho queesta não é a colocação mais feliz porque o que é preciso, da parte dosEstados Unidos, é um olhar diferente para a América Latina, muito maismatizado, com muito comedimento, com o esforço de buscar o diálogomesmo com regimes hostis, e procurar buscar linhas de cooperação com aregião que atendam a problemas profundos sem interferir indevidamentenos processos políticos”, avalia. “Terão de buscar uma nova receita, uma nova postura em relação à região”, reitera. Emseu site de campanha, Barack Obama reconhece que a região mudou e dizque os Estados Unidos não acompanharam tal mudança. “Em vez de ofereceruma visão que compita com a de demagogos como Hugo Chávez, cruzamos osbraços”,  diz a página oficial do novo presidente.Peloprograma de governo apresentado durante a campanha, o primeiropresidente negro da história dos Estados Unidos proporá uma aliançaregional, já batizada de Sociedade Energética das Américas, para oplanejamento de estratégias conjuntas visando ao crescimento sustentávele à energia limpa. Nesse sentido, promete aumentar os investimentos emrecursos energéticos  alternativos na América Latina, como as energiasaeólica e solar e os biocombustíveis. Obama também pretendelançar uma iniciativa conjunta na área de segurança. A idéia é fomentara cooperação regional no combate ao narcotráfico. Para isso promete,inclusive, apoiar o desenvolvimento de instituições policiais ejudiciais independentes e “capazes”.O novo presidente da maioreconomia do planeta se propõe a manter relações diplomáticas com todosos líderes da região, “tanto amigos quanto inimigos” e já demonstrouque pretende flexibilizar o bloqueio econômico imposto a Cuba há 50anos. Ele garantiu que autorizará remessas e viagens irrestritas de cubanosque moram nos Estados Unidos à ilha e relaxará a ajuda exterior aopaís, mas impôs condições como a liberação de todos os presospolíticos. Obama  garantiu ainda que adotará uma diplomacia bilateral “energética ede princípios”.