Modernização agrícola impede avanços na reforma agrária, diz líder do MST

20/01/2009 - 19h38

Lisiane Wandscheer
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Aofazer um balanço sobre os 25 anos do Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a coordenadora nacional domovimento, Marina dos Santos, apontou hoje (20) a modernizaçãoda agricultura como um dos obstáculos ao processo de reformaagrária.

“Antes,a reforma agrária enfrentava apenas o latifúndio, queconcentrava a terra de forma atrasada e arcaica. Hoje a modernização,através das empresas transnacionais e do agronegócio,se apropria dos bens naturais, e isso impede o processo de reformaagrária”, disse Marina.Em Sarandi, a 333 quilômetros de PortoAlegre, 1.300 delegados de 24 estados brasileiros abriram hoje oEncontro Nacional dos 25 anos do MST. O encontro, que vai atésábado, está sendo realizado na antiga Fazenda Annonni,palco da primeira grande ocupação do movimento no RioGrande do Sul, em 1985. Segundo Marina, desde então, houve muitosavanços e os objetivos de luta foram mantidos, mas ainda hámuito trabalho a ser feito, principalmente na realidade nacional, emque 1% dos proprietários detém 46% das terrasagricultáveis no país.“Durante 25 anos, cerca de 350 mil famíliasforam assentadas no país em 7 milhões de hectares deterra. Outras 100 mil famílias estão acampadas econtinuam na luta pela reforma agrária”, informou a líderdo MST.. Marina criticou a atuação do governofederal, afirmando que, no ano passado, foram assentadas apenas 20mil famílias, o que considerou um dos piores desempenhos daUnião nos últimos tempos.“A reforma agrária continua sendo tratadacomo um problema de compensação social. Os governosatuam na resolução dos conflitos, e não noenfrentamento da concentração da terra e da estruturafundiária no Brasil.” Ela citou dados do Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística (IBGE) e da Universidade de SãoPaulo (USP) de que existem cerca de 4,5 milhões de famíliassem terra e 270 milhões de hectares disponíveis para areforma agrária. “O governo federal apresentou em 2008 osegundo Plano Nacional de Reforma Agrária, que prevê oassentamento de 1 milhão de famílias no país.Para nós, isso ajudaria a iniciar o processo no país.”A líder dos trabalhadores defendeu tambéma necessidade de o MST se articular com outros movimentos sociais.“Hoje temos claro que não é só o MST que faráa reforma agrária no país, e sim a pressãoconjunta da classe trabalhadora.” O coordenador do MST no Rio Grande do Sul, IsaíasVedovato, explicou que a Fazenda Annoni foi escolhida para sede doencontro que comemora os 25 anos do movimento por ser um marco para areforma agrária no país. “A Fazenda Annonni foi aafirmação do MST”, disse ele. A ocupaçãofoi definida no primeiro encontro do MST, em janeiro de 1985. Emoutubro 2.500 famílias entraram na área e depois 450foram assentadas.De acordo com Vedovato, a área, que antesera improdutiva, hoje é um exemplo de assentamento bemsucedido. “Lá havia apenas 400 cabeças de gado,atualmente são 5 mil. Temos frigorífico, produzimos 650mil litros de leite por mês, plantamos feijão, milho,soja e hortifrutigranjeiros para subsistência. Com a venda.cada família recebe entre 3 e 5 salários mínimospor mês.”