Embaixador diz que área social deve ser nova frente de cooperação entre Brasil e EUA

20/01/2009 - 5h50

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A área social deve ser uma das novas frentes decooperação entre Brasil e Estados Unidos durante o governo de BarackObama. A expectativa se deve ao histórico da substituta de CondoleezzaRice no cargo de secretária de Estado norte-americana, a ex-primeiradama Hillary Clinton. “Ela se preocupa com o combate à pobreza ecom a promoção do progresso social, esse é um tema que poderá surgir naagenda  com maior ênfase do que tem sido no passado”, avaliou oembaixador do Brasil em Washington, Antonio Patriota, em entrevistaexclusiva à Agência Brasil.O embaixador afirma que há umreconhecimento, pelo Executivo e pelo Legislativo dos Estados Unidos,da influência regional e global exercida pelo Brasil. Isso se refleteem uma ampla pauta de diálogo bilateral. “Temos uma agenda que seconcentra tanto em aspectos bilaterais quanto em iniciativas regionais.Há diálogos no plano das relações políticas sobre questões como o Haiti, onde o Brasil está com tropas e comanda a missão deestabilização das Nações Unidas”, acrescenta.  Comotemas de interesse bilateral, Patriota cita o memorando de entendimento sobrebiocombustíveis e a iniciativa conjunta na promoção da igualdade. Em marçodo ano passado, durante visita da secretária de Estado norte-americana,Condoleezza Rice, ao Brasil, foi firmado acordo estabelecendo a criaçãode um grupo diretor para analisar formas de cooperação na promoção daigualdade de oportunidades. Em nível de cooperação regional,Patriota menciona a parceria  para disseminar o uso de biocombustíveisem algumas economias do Caribe e da América Central. Em marçodo ano passado, durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silvaaos Estados Unidos, foram definidos quatro países para a realização deprojetos-piloto na produção de biocombustíveis: Haiti, RepúblicaDominicana, São Cristóvão e Nevis e El Salvador. Na ocasião, Lula e opresidente George W. Bush também se comprometeram a cooperar naerradicação da malária em São Tomé e Príncipe e no combate à malária, àtuberculose e a outras doenças em países africanos de língua portuguesa,como Angola e Moçambique. Mas foi no âmbito político que asrelações mais avançaram, sobretudo no segundo mandato do presidenteBush, avalia o embaixador. “Hoje em dia existem diálogos específicossobre África, Oriente Médio e outras questões internacionais. Tudo issocontinuará existindo”, ressalta.Patriota também cita os númerosdo comércio bilateral. Lembra que as exportações do Brasil para os EstadosUnidos dobraram nos últimos sete anos - saltaram de US$ 14,2 bilhões em2001 para US$ 27,4 bilhões em 2008. Já as importações passaram de US$12,9 bilhões para US$ 25,6 bilhões. Os Estados Unidos são o principalparceiro comercial do Brasil. “O comércio bilateral alcançou em 2008 acifra sem precedentes de US$ 53 milhões e ainda temos um pequenosuperávit, continuamos sendo destino de investimentos importantesnorte-americanos e cada vez mais empresas brasileiras investem nosEstados Unidos, como Petrobras, Gerdau, Odebrecht e Embraer”, diz oembaixador. Ele lembra ainda que em 2007 foi criado um fórum dediálogo de parceria econômica, que vem identificando novas oportunidadesde parceria. “A relação econômico-comercial está saudável, mas é claroque pode sempre melhorar”, avalia, citando como exemplo a tarifacobrada sobre o etanol brasileiro.  Em termos globais,Patriota acredita que a eleição de Obama abre a possibilidade de quenovos temas sejam tratados no âmbito da Organização das Nações Unidas(ONU), como o combate à fome e à pobreza, a mudança do clima eo aprimoramento das  operações de paz. “Sabemos que a administração Bushnão se caracterizou por uma valorização especial do multilateralismo,mas a administração Obama já entra com sinalizações muito claras de quedeseja se reengajar na cooperação internacional nas Nações Unidas e emoutros fóruns”, pondera. O embaixador também acredita emavanços no processo de reforma das Nações Unidas. Sinal nesse sentidofoi o tema deixar de ser tratado por um grupo de trabalho específico,onde dependia de consenso e por isso não avançava, para ser debatidopela Assembléia Geral, onde bastam dois terços para aprovação de qualquer matéria.