Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Representantesdo Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis(MNCR) denunciaram hoje (20) que a atividade foi sensivelmenteprejudicada pela crise financeira internacional e que, se algo nãofor feito nos próximos 90 dias, muitos catadores migrarãopara outras atividades informais, prejudicando as empresascompradoras desse tipo de material. “A situaçãoestá crítica, e todos os estados passam por problemas,principalmente os do Nordeste, que estão com maior quantidadede material parado. Nossa renda caiu vertiginosamente e até ascooperativas estão com dificuldades para pagar o custooperacional, após uma queda de 25% em suas receitas”,afirmou coordenador nacional do MNCR em São Paulo, RobertoLaureano. “Provavelmente muitas cooperativas vãofalir se, em 90 dias, uma solução não forapresentada. Já estamos usando o nosso fôlego final e,sem alternativas, praticamente todos os catadores abandonarãoa atividade para trabalhar como marreteiros, na informalidade, evendendo coisas nas ruas”, advertiu.Segundo Laureano, ospreços pagos atualmente não permitem mais asobrevivência dos catadores. “Em São Paulo, a quedados preços do quilo de material chega a 62%, caso do ferro,que em setembro custava R$ 0,42 o quilo e em novembro estava a R$0,16”. Laureano informou que o papelão, no mesmoperíodo, baixou 14%, passando de R$ 0,28 para R$ 0,24 o quilo.O plástico coletado também baixou, passando de R$ 0,40para R$ 0,30 – uma redução de 25%. O alumínio,que estava a R$ 3,40 em setembro, estava em novembro a R$ 2,90.Atualmente, os catadores recebem das empresas apenas R$1,80 por quilodo produto, uma queda de 47%. “Em dezembro sequer teve cotapara o alumínio, uma vez que não houve comercializaçãodo produto”, completou.Em Minas Gerais, a situaçãonão é diferente, disse o coordenador nacional do MNCRno estado, Luiz Henrique da Silva. Segundo ele, entre setembro ejaneiro, o preço do quilo de papelão especial baixou deR$ 0,47 para R$ 0,12; o papelão fino, de R$ 0,37 para R$ 0,10;o jornal, de R$ 0,27 para R$ 0,08; o papel misturado, de R$ 0,15 paraR$ 0,01; e o papel branco, de R$ 0,47 para R$ 0,30“O ferro,que em setembro custava R$ 0,28, parou de ser comprado desde o dia 20de novembro. Nossa expectativa é que, a partir do dia 26 dejaneiro, vendamos esse tipo de material a R$ 0,10 o quilo”, disseLuiz Henrique. O plástico também teve quedaacentuada de preço em Minas, baixando de R$ 1,00 para R$ 0,60,o quilo. E o plástico de garrafas pet, de R$1,20 paraR$0,60. “Teoricamente o preço do plástico écotado pelo dólar, mas, como não existe ferramenta decontrole, as empresas não repassam a alta do dólar paraos catadores. E, quando a moeda está em baixa, elas tambémbaixam os valores pagos. Infelizmente não temos nenhumaferramenta para combater isso”, lamenta. “Do mesmo jeitoque as empresas recebem incentivos fiscais e econômicos dosgovernos federal estadual e municipal, nós tambémqueremos ajuda. Até porque são as cooperativas asverdadeiras geradoras de emprego. Estimamos que haja cerca de 800 milcatadores de material reciclável no país. A absolutamaioria não tem carteira assinada e é responsávelpor 90% do processo de reciclagem. No entanto, pelos cálculosdo movimento, recebemos apenas 10% do lucro resultante desse tipo decomércio”, explica Luiz Henrique. A situação,segundo ele, está insustentável nas capitais. “E nointerior está ainda pior, porque lá a atividade émais forte em função da menor oportunidade detrabalho”. De acordo com ele, 71% dos catadores ainda estãonos lixões. Luiz Henrique lembrou que, na Lei deSaneamento, existe um artigo que dispensa as licitaçõesquando as contratadas são cooperativas ou associaçõesde catadores, mas disse que a norma legal não estásendo implementada porque, na prática, os municípiosquerem contratar empresas”, informou.“Prefeituras,estados e governo federal precisam aproveitar essa lei e contratarmais o serviço de cooperativas e associações, sedesejam evitar uma crise ainda maior de desemprego”, completou ocoordenador do MNCR em São Paulo, Roberto Laureano.