Morador judeu próximo a Gaza busca vida normal, mas diz que todos são afetados pela guerra

08/01/2009 - 19h23

Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Vivendoa três quilômetros e meio da Faixa de Gaza, alvo da maiorofensiva militar de Israel na Palestina desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, oeconomista judeu Mark Levi, destaca que, apesar de buscar uma normalidadecotidiana, a vida tem sido difícil, em um estado de tensãopermanente, que vem de antes do início da investidaisraelense.“Constantemente, vemos a aviação, oshelicópteros utilizados para os bombardeios. Eu ouço aartilharia, o bombardeio da Marinha. Por outro lado, a gente tambémpercebe mísseis, que, às vezes, caem na região onde eu moro.Por sorte, tem caído em campos abertos”, descreveu Levi o seudia-a-dia, em entrevista à Agência Brasil por telefone.Judeunascido no Egito, Levi morou no Brasil dos 11 aos 23 anos, fala português e hoje mora em um kibutz (forma de organizaçãocomunitária israelense que se assemelha a fazendas coletivas),com pouco mais de 350 habitantes chamado Zikin, localizado entre acidade de Ashqelon e a fronteira norte da Faixa de Gaza. “A regiãoestá vivendo uma época difícil. Mas essa épocadifícil, para nós, não começou háduas semanas. Na realidade, há alguns anos a gente vive essasituação”, comentou Levi.Eleinformou que, nas cidades e nos kibutzim (plural de kibutz) que circundam a Faixa deGaza, as escolas foram fechadas e parte da populaçãodecidiu fechar suas casas e se abrigar na casa de parentes que vivemno norte de Israel, próximo à fronteira com o Líbano.“O dia-a-dia é muito diferente do regular. Temos tido umavida em uma situação de emergência, mas a maiorparte das pessoas vai trabalhar. O grosso da populaçãotenta viver normalmente, apesar da situação. As escolasda região foram fechadas, para evitar uma situaçãode crianças na rua sem a proximidade de um adulto. Ofechamento das escolas é também para evitar umaaglomeração de crianças em um só lugar.Então as escolas e os jardins de infância nãoestão funcionando", descreveu Levi.Apopulação que vive ao redor da Faixa de Gaza, nascidades e nos kibutzim gira em torno de 600 mil a 700 mil pessoas.Levi, que antes trabalhava em uma das duas fábricaslocalizadas em Ziqin, trabalha há três semanas em TelAviv e, por isso, todos os dias, segue de carro para a cidadelocalizada no litoral. Ele ressalta que o percurso é tranqüilo, mas que tem a consciência do perigo.“Sabemos que,a qualquer momento, em qualquer lugar podemos ser alvo de um míssil.O trânsito é bem intenso. Ao sair de Tel Aviv, vi umagrande manifestação em frente ao Ministério daDefesa, com pessoas dizendo não à guerra e exigindo umcessar-fogo”, disse.Noentanto a manifestação de Tel Aviv, na opiniãode Levi, não reflete o pensamento da maior parte dosisraelenses. Ele calcula que mais de 60% da populaçãoisraelense apóia a ofensiva sobre Gaza e acredita que aproximidade com as eleições pode influenciar no sentidode prolongar o bombardeio contra os palestinos. “Essa ofensivamilitar tem um apoio muito grande da população. Tem quese entender que essas situação de mísseis caindoem nossa região dura já uns seis ou sete anos. Havia umsentimento de saturação”, destacou.Aseleições para primeiro-ministro de Israel estãomarcadas para o próximo dia 10 de fevereiro e a disputa estáentre três candidatos, dos três principais partidos.“Receio que algumas considerações eleitorais possamatrapalhar uma atitude mais ponderada que promova um cessar-fogo. Naépoca pré-eleitoral, se leva em conta outro tipo dereflexão. Sendo hoje em dia a ofensiva muito popular, nenhumdos líderes está interessado em aparecer como aqueleque tomou uma iniciativa de cessar-fogo", disse Levi.Disputam o cargo de primeiro-ministro a atual ministra de NegóciosEstrangeiros e candidata pelo Kadima, Tzipi Livni; o atual ministroda Defesa, Ehud Barak, candidato pelo Partido Trabalhista; alémdo ex-premiê Benjamin Netanyahu, candidato pelo Likud, e queconta com o apoio da extrema direita, que sempre pregou uma reaçãodura contra os lançamentos de foguetes partindo de Gaza.Deacordo com Levi, a oposição liderada pelo que eledenomina de social democracia apóia a ofensiva contra Gaza,mas entende que o governo de israel “exagerou”. “Eu,pessoalmente, pertenço a essa oposição, que dizclaramente que temos que ir para um cessar-fogo. Nós temos quetentar uma diálogo para tentar encontrar uma soluçãopolítica. Nós acreditamos que a reaçãoaos ataques do Hamas era necessária. A gente acha que Israel,de certa maneira ultrapassou a linha vermelha. Exagerou na dimensãoda reação”, explicou. Háainda a oposição liderada pelos partidos árabes,que têm o voto dos cerca de 1,5 milhão de cidadãosárabes residentes em Israel. “Eles têm uma atitude muitomais extrema, de condenar a ação, de falar em crimescontra a humanidade”, ressaltou.