Risco do crédito aumentou com crescimento econômico, e não na crise, diz Meirelles

27/11/2008 - 15h13

Jorge Wamburg
Enviado especial
Goiânia - A visão de queo risco de crédito dos balanços dos bancos aumentou coma crise financeira mundial é equivocada: os riscos aumentaramem momentos de crescimento acelerado e de euforia, quando foramfeitos empréstimos arriscados, sem análise adequada ecom prestação equivocada. A afirmação foifeita pelo presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles,ontem (26) à noite, em palestra para jovens empresários.De acordo comMeirelles, os problemas foram colocados nos balanços emmomentos de euforia, e não de crise, e o prejuízoapenas se materializou quando veio a crise. Na palestra, alémde analisar a crise, iniciada no mercado imobiliárionorte-americano e que se espalhou pelo mundo nos últimosmeses, Meirelles esmiuçou todos os detalhes da situaçãoda economia global, inclusive a do Brasil.Para ele, emboraenfrente problemas, o Brasil pode se sair bem da turbulência,porque tem situação econômica mais sólidado que muitos outros países, entre os quais os Estados Unidos.Daí o otimismo com que se dirigiu aos participantes do 14°Congresso Nacional dos Jovens Empresários, reunidos no Centrode Convenções de Goiânia.“As grandesrealizações, os grandes vencedores, plantam suasraízes, fazem seu planejamento e começam, de fato, suaascensão, em momentos de desaceleração do cicloeconômico”, destacou.Meirelles passou cerca de umahora apresentando estatísticas e gráficos parajustificar suas opiniões otimistas sobre as condiçõesdo Brasil para navegar na crise sem perder o rumo. Ele prendeu aatenção das cerca de mil pessoas que assistiram àpalestra e, ao final, foi muito aplaudido.As raízes dacrise, na visão dele, não foram apenas os empréstimosproblemáticos dos bancos norte-americanos, mas os “ativostóxicos que foram comprados naquelas oportunidades, emmomentos de euforia”, e estão sendo cobrados agora. Comoexemplo, citou um casal de brasileiros com quem teve contato em umaviagem aos Estados Unidos. O casal se endividou com empréstimosque os americanos chamam de “ninja”, no jargão do mercado:empréstimo para alguém que não tem emprego, nãotem renda e não tem propriedade.Segundo Meirelles,tais empréstimos foram feitos no pressuposto de que a economiacontinuaria em forte ascensão. Isso não ocorreu, muitosempréstimos não foram pagos e a crise começou. Ocasal de brasileiros citado foi vítima dessa situação:ela, arrumadeira, e ele, jardineiro, ganhavam, cada um, cerca de US$2 mil por mês, e tinham “um padrão de vida adequado”.Compraram uma casa financiada por US$ 200 mil, e o corretor ofereceuum empréstimo bancário com juros baixos e semamortização nos primeiros dois anos.O casal sócomeçaria a amortizar o empréstimo depois de dois anos,com “um ajuste na taxa de mercado”. Passado esse tempo, eaconselhados pelo corretor, para aproveitar a valorizaçãodos imóveis, tomaram outro empréstimo e compraram umacasa melhor. Depois, financiaram a terceira casa, melhor ainda, e nofinal do processo, tinham acabado de comprar uma casa de US$ 700mil.“Quando chegou a crise, eles perderam a casa, perderamtudo que tinham gasto e ficaram numa situação trágica,do ponto de vista familiar. E o banco perdeu também muitodinheiro”, resumiu Meirelles. Para ele, a lição quefica do episódio é que um planejamento, seja pessoal,familiar, empresarial ou bancário, feito num pressuposto deeuforia tem grandes chances de não dar certo.