Projeto de cotas fere autonomia das universidades, alega Andifes

21/11/2008 - 12h30

Paula Laboissière*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) se declarou contrária ao projeto aprovado ontem (20) na Câmara dos Deputados que estabelece cotas raciais e sociais nas universidadespúblicas federais de todo o país.Ementrevista à Agência Brasil, o presidente doórgão, Amaro Lins, explicou que éfavorável a medidas que possibilitem oacesso ao ensino superior, mas que é preciso conhecer ascondições de cada instituição de ensino enão apenas garantir um número fixo de vagas por meio deuma lei.“Somoscontrários a colocar em lei, definir o que é cota, otempo de ação e o percentual, porque isso, inclusive,fere a autonomia das universidades. É muito grave. Esseprojeto, no final, pode trazer um resultado oposto ao que sepretendia porque quando você deixa 50% de todas as vagas paraalunos da rede pública sem considerar as questõeslocais e as condições da própria universidade edo seu entorno, você pode promover maior ociosidade dentro dasuniversidades.”SegundoLins, as 58 universidades públicas do país que jápraticam algum tipo de ação afirmativa ou de cotas para o ensino superior discutiram o tema com a comunidade locale com os governos estaduais envolvidos. Algumas oferecem cursos paraque alunos da rede pública de ensino se preparem para ovestibular, outras mantêm algum tipo de cota ou mesmo estímulose incentivos na própria nota do vestibular também paraalunos da rede pública.Durantevisita ao estado do Amapá, Lins afirma que alguns cursos –sobretudo os que envolvem uma base científica como Físicae Química – apresentam grande evasão de alunos nãoapenas no Brasil mas em todo o mundo. Os índices, segundo ele,podem chegar a 50%.“Sevocê simplesmente põe 50% de alunos da rede públicaque, infelizmente, vêm de escolas que não têm aqualidade necessária, eles não vão ter sucessonos cursos, vão se evadir muito provavelmente já noprimeiro período. É cruel tomar uma decisãodessa." "Por isso, apelamos ao Congresso Nacional que pense bem edialogue mais com as universidades sobre isso. Para que possamosfazer algo que estamos todos de acordo, que é a inclusãode jovens que não têm as mesmas condiçõesde educação que outras classes mais elevadas”, diz.Linsafirma que a Andifes também é contrária ao que ele chama de subcotas que beneficiam negros, indígenas e estudantes debaixa renda. Ele acredita que existem políticas “maisadequadas” e cita como exemplo positivo o método adotadopela Universidade Federal de Pernambuco. No processo seletivo da instituição, oaluno da rede pública recebe 10% a mais na nota que tira novestibular.“Ele étão bom ou melhor do que um aluno da rede privada. Dessaforma, garantimos que todos os alunos sejam bons e promovemos umaforte inclusão por meio do processo.Dentre asprincipais causas da evasão no ensino superior brasileiro, elelembrou o baixo nível de formação dos alunos queingressam nas universidades, o poder aquisitivo dos alunos, aausência de maturidade, o pouco conhecimento sobre o cursoescolhido e a falta de apoio por parte da própria instituiçãopara que os alunos se sintam adaptados.