Lula defende papel do Estado como regulador do sistema financeiro

28/10/2008 - 18h08

Luciana Lima
Enviada especial
Salvador - “Chegou a hora dapolítica”, afirmou hoje (28) o presidente Luiz InácioLula da Silva, ao defender papel do Estado como regulador do sistemafinanceiro. Em Salvador, onde participou da 9ª CúpulaBrasil-Portugal, Lula se colocou contrário aos que defendiam oliberalismo econômico sem a interferência do poderpúblico. “Teve uma época,por muito tempo, em que os políticos andaram de cabeçabaixa diante do neoliberalismo. O que estou defendendo não éo Estado se intrometer na economia, mas é o Estado que tenhaforça política para regular o sistema financeiro”,disse o presidente no pronunciamento que fez, ao lado doprimeiro-ministro de Portugal, José Socrates. “Fomos eleitos,assumimos compromissos com o povo, e o Estado, diante da crisemundial, volta a ter papel extraordinário, porque todas essasinstituições que negaram o papel do Estado na hora dacrise procuram o Estado para socorrê-las da crise que elasmesmo criaram”, afirmou Lula. O presidente tambémvoltou a criticar as empresas que especularam e tiveram prejuízoscom a crise mundial.“As empresasbrasileiras têm grandes investimentos, rodovias, ferrovias,siderurgia, portos, agricultura. Trabalhamos honestamente por seisanos para por a economia num padrão respeitável noBrasil inteiro. É por isso que juntamos US$ 207 bilhõesem reservas. É por isso que fizemos ajustes fiscais.Entretanto, por que estamos vivendo sinais da crise? É porquealguns setores resolveram investir em derivativos, fazer um cassino.Portanto quem foi para a jogatina perdeu. Portanto, ninguémtinha o direito de tentar, diria de forma ilícita, mais queaquilo que o próprio sistema produtivo oferecia ao país”,disse o presidenteLula enfatizou que ossetores da economia devem concentrar seus esforços em ganhardinheiro com a produtividade. “O sistema financeiro tem obrigaçãode ganhar o seu dinheiro em coisas que gerarão empregos,produtos, riqueza. Não podemos permitir que o sistemafinanceiro mundial brinque com a sociedade. Não podemosadmitir que alguém fique rico apenas trocando papéis epoucas vezes se gerou um paletó, uma bota e um alfinete”. O primeiro-ministro dePortugal, José Socrates, apoiou a colocaçãodo presidente Lula e disse que em Portugal a ação dogoverno foi a mesma tomada no Brasil, com o objetivo de minimizar osefeitos da crise na economia interna: a de dar mais liquidez aosbancos. “Concordo com opresidente Lula quando ele diz que chegou a vez da política.Esse é um momento decisivo e Portugal e Brasil querem ação,não inação, fingir que nada aconteceu”,afirmou o chefe de Estado de Portugal, ao se referir às açõespara o combate à crise econômica.Para Socrates, acrise mundial funcionou como um divisor de águas. Eleressaltou que não se trata de uma crise cíclica e simde uma crise grave, “que acontece apenas uma vez na vida de cadapessoa”.“Existe um antes e umdepois da crise mundial. Antes, existia um pensamento único deque qualquer intervenção do Estado seria de formaburocrática, com finalidade de aumentar imposto. Hoje háo entendimento de que é necessária a açãoda política para construir essa nova ordem mundial econômicade uma globalização mais justa”, ressaltou.Lula e Socratestambém se uniram na defesa do fortalecimento da UniãoEuropéia e do Mercosul. “Se não estivéssemosna zona do euro eu não sei que seria de Portugal”, disseSocrates.