Cientistas anunciam primeira linhagem de células-tronco embrionárias humanas do Brasil

01/10/2008 - 20h01

Lúcia Norcio
Repórter da Agência Brasil
Curitiba - A produçãoda primeira linhagem de células-tronco embrionáriashumanas com tecnologia totalmente brasileira foi anunciadaoficialmente hoje (1º), em Curitiba, durante o III SimpósioInternacional de Terapia Celular. Após dois anos de pesquisae 35 tentativas, cientistas da Universidade de São Paulo e doInstituto de Ciências Biomédicas do Rio de Janeiroobtiveram a primeira linhagem de células-tronco estáveisda América Latina.Os resultados positivosforam conhecidos há três meses e agora confirmados. Ascélulas foram obtidas de embriões que estavamcongelados em clínicas de fertilização invitro, doados para pesquisa com a autorização dosgenitores.Segundo Stevens Rehen,do Instituto de Ciências Biomédicas do Rio de Janeiro eum dos responsáveis pela pesquisa coordenada pela cientistaLygia da Veiga Pereira, durante o processo as células forammultiplicadas e testadas para ver se realmente eram capazes de setransformar em qualquer tecido do corpo humano – pluripotentes.“Antes desse avanço,os pesquisadores brasileiros interessados em trabalhar com célulasembrionárias humanas eram obrigados a importar linhagens congeladas. Cada tubinho de células ficava em torno de US$ 1,5mil , muitas vezes perdidos porque ficavam retidos em alfândegas”, ressaltou o pesquisador.O uso de embriõeshumanos em pesquisas foi legalizado no Brasil, em 2005, pela Lei deBiossegurança. A partir daí, segundo Stevens, a equipecomeçou as pesquisas com recursos do Ministério daSaúde. A primeira linhagem celular de embriõeshumanos foi divulgada em 1998, por cientistas da Universidade deWisconsin-Madison (EUA).Para o pesquisador, adescoberta é um passo importante para a autonomia daspesquisas com células-tronco no Brasil. As célulascontinuarão agora a ser multiplicadas in vitro e distribuídas amostras, através da Rede Nacional deTerapia Celular, do Ministério da Saúde, parapesquisadores que quiserem trabalhar com elas. São“imortais” e podem ser multiplicadas indefinidamente sem perderas características. O pesquisador define adescoberta como um fato histórico, de autonomiabiotecnológica. Disse ainda que se trata de pesquisa básica,mas que permitirá aos cientistas trabalhar numa áreaque terá impacto muito grande, futuramente, na medicinaregenerativa. ‘O desafio de transformar a célula em qualquercoisa, em neurônio, osso, é um desafio que o mundointeiro tem para gerar um tipo de célula necessáriapara curar determinadas doenças”, afirmouSegundo ele, éimportante trabalhar com as células-tronco adultas e tambémcom as embrionárias. Agora, o Brasil, que tem pesquisadores dereconhecida competência, vai trabalhar nas duas áreas.“O domínio dessa tecnologia mostra um avançocientífico muito importante para o Brasil.”Uma aplicaçãoimediata da pesquisa poderá ser sentida no desenvolvimento denovos medicamentos. “Podemos agora pegar um neurônio humano e na placa de cultura colocar um determinado medicamento para ver seele tem efeito benéfico para determinada patologia. Isso éum avanço significativo. Investigar novos remédios sem precisar testá-lo no paciente é uma forma indiretada pesquisa chegar à população”, disseStevens.De acordo com ele, ouso dessas células diretamente por médicos para curardoenças ainda vai demorar. Não existe ainda nenhumestudo clínico sendo feito no mundo com o uso dascélulas-tronco embrionárias humanas. Existem apenaspedidos de autorização de estudos clínicos paracélulas diferenciadas, feitos por companhias americanas, juntoao Food and Drug Administration (FDA), mas até o momentonenhum ensaio foi autorizado. “Existe uma preocupaçãomuito grande com a segurança”.O Brasil pode agoraconcentrar seus estudos numa linhagem totalmente brasileira,acrescentou Stevens, sem se preocupar com propriedade industrial ou patenteamento no futuro. “Se conseguíssemos, com nossaspesquisas, transformar uma célula embrionária compradano exterior, 100% em neurônio, teríamos que pagarpatente ao proprietário da linhagem. Agora, somos livres paratrabalhar.”