Paulistano tende a votar em candidatos de centro-direita, diz cientista político

31/07/2008 - 15h51

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - As eleiçõesmunicipais dos últimos 20 anos, em São Paulo,demonstram que o eleitorado paulistano tem uma tendência avotar em candidatos de centro-direita. A análise é docientista político Hilton Cesário Fernandes, formadopela Universidade de São Paulo (USP) e professor da FundaçãoEscola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp).“Oque acontece, e não é porque o paulistano decide mudarem toda eleição, é que há a tendênciado eleitor votar em partidos de centro-direita, embora o PT tenhasido eleito em 1988 (Luiza Erundina) porque não teve segundo turno, e em 2000(Marta Suplicy) porque havia uma separação muito forte dos partidos decentro-direita e uma avaliação muito ruim do governo deCelso Pitta [ex-prefeito]”, afirma.Em entrevista àAgência Brasil, Fernandes faz um histórico sobreas eleições municipais na cidade que tem a terceiramaior economia do Brasil – atrás da economia nacional e dopróprio estado – e uma da principais campanhas políticas,acompanhada por grandes veículos de comunicação.“Os candidatos naseleições em São Paulo são monitorados portoda a imprensa porque daqui podem sair nomes para concorrer aogoverno ou à presidência do país”, dizFernandes.AgênciaBrasil: Qual a sua análise das eleições na cidade de SãoPaulo nos últimos 20 anos?Hilton Fernandes: Em1985, a campanha foi centrada nos dois principais candidatos: JânioQuadros (PTB), um ex-presidente, e Fernando Henrique Cardoso (PMDB),já que na época ainda não existia o PSDB. Tinhaum terceiro candidato correndo por fora que era o Eduardo Suplicy(PT), que conseguiu uma boa quantidade de votos, suficiente paraatrapalhar o Fernando Henrique. A partir daquele momento dava paraperceber uma separação do eleitorado de SãoPaulo, que era pouco mais de direita, em sua maioria, e o centro sedeslocava mais para a direita do que para a esquerda. A maioria doeleitorado acabava sendo de centro-direita. A candidatura de esquerdateria poucas chances. Em 1998, quando a Luíza Erundina foicandidata pelo PT, ela ficava sempre em terceiro lugar nas pesquisas.O Paulo Maluf (ex-PDS, hoje PP) e o João Leiva(PMDB) apareciam em primeiro e segundo lugares. Mas no final daeleição, a Erundina acabou ganhando, em turno único.A Erundina não precisou apenas combater uma candidatura quecentralizava os órgãos da esquerda. Tinha o Maluf e oLeiva. Se tivesse um segundo turno, provavelmente o Maluf ganharia daErundina. Tanto é verdade que a maior parte do eleitorado éde direita que, quatro anos depois, em 1992, o Maluf ganhou doSuplicy no primeiro e no segundo turnos. Em 1996, Maluf fez osucessor com o Celso Pitta (PPB), contra a Erundina, que perdeuno segundo turno. Mas o Pitta fez uma administraçãodesastrada e foi avaliado como o pior prefeito de todas as capitaisbrasileiras, tendo apenas 2% ou 4% de aprovação. Nenhumprefeito teve uma rejeição tão alta assim. E em2000, o Pitta não tinha como se reeleger. O Maluf voltoupara tentar a candidatura contra a Marta Suplicy (PT). Mas os votosforam par a Marta, já que a popularidade do Maluf estava baixae ele ainda estava carregando a péssima avaliaçãodo Pitta. Marta ganhou do Maluf no primeiro e no segundo turno. Em2004, sem a má avaliação do Maluf pesando contrao opositor da Marta (PT) - o José Serra (PSDB) - ela teve maisdificuldade para se reeleger. A Marta era prefeita, candidata àreeleição, e o Serra vinha de uma campanha derrotada em2002 para a presidência, mas com grande visibilidade. Serra jácomeçou bem nas pesquisas para 2004. Ele não precisoubrigar com a Marta para subir nas pesquisas: ele apenas conduziu acampanha, sem se envolver em grandes discussões e focando naárea de saúde, onde era bem avaliado como ex-ministro.Fez uma boa composição de chapa com o então PFL (hoje DEM), tirando osvotos que poderiam ser dispersos na direita. Ele centralizou votos dadireita e do centro na sua candidatura e foi do começo ao fimsempre à frente nas pesquisas. Esse histórico todo dascampanhas eleitorais em São Paulo mostra que sempre teremosuma candidatura do PT com grandes chances de ir para o segundo turno– uma candidatura forte. ABr:Qual a importância das eleições municipaisem São Paulo?Fernandes: Agrande importância da campanha para a Prefeitura de SãoPaulo é a visibilidade. Tanto pelo cargo, já que a cidade de SãoPaulo é a maior economia do país, quanto porquea economia gira em torno das empresas que estão aqui; osgrandes meios de comunicação estão aqui. SãoPaulo tem uma visibilidade muito grande e a campanha para aprefeitura também tem essa visibilidade independente docandidato ganhar ou não. Os candidatos nas eleiçõesem São Paulo são monitorados por toda a imprensa, porquedaqui podem sair nomes para concorrer ao governo estadual ou àpresidência do país. O tamanho do eleitorado influencia,e São Paulo tem um eleitorado muito grande, mais de 8 milhões.Por aqui também passaram nomes de lideranças de grandespartidos como o PT e o PSDB. A formação desses partidoscomeçou aqui. Grandes nomes desses partidos partiram daquitambém: o próprio governador José Serra, o LuizInácio Lula da Silva, a Marta Suplicy, o Fernando HenriqueCardoso – que foi candidato a prefeito aqui em São Paulo echegou à presidência. A campanha para a Prefeitura deSão Paulo já traz uma importância para oscandidatos terem visibilidade no país inteiro.ABr:Haveria candidatos então que disputariam as eleiçõespaulistanas apenas buscando visibilidade, já que saberiam quenão teriam chances de ganhar as eleições...Fernandes: Éo caso, por exemplo, do Fernando Collor em 2000. Ele foi candidato aprefeito de São Paulo. Transferiu o título para acidade só para sair candidato. Ele sabia que não tinhachances e que a candidatura poderia ser impugnada – como foirealmente – mas era a forma dele aparecer. Foi a primeiracandidatura dele depois do impeachment. A forma dele voltar aaparecer na mídia era saindo candidato à Prefeitura deSão Paulo. Ele teve chances de aparecer no debate. Em 2006,ele saiu candidato a senador por Alagoas e conseguiu voltar aogoverno.ABr: Issoaconteceria por que o eleitor paulistano é mais conservador?Fernandes: Sim.A maioria do eleitor paulistano é conservadora. Temospesquisas que mostram que há uma tendência do eleitorpaulistano a ser mais conservador. Mas tem uma base petista, deesquerda, muito forte também. Não é a maioria,mas garante sempre uma forte votação do PT.ABr: Oeleitor vota em candidato, partido, programa ou ideologia? Como votao eleitor paulistano?Fernandes: Issonão tem uma resposta única. Mas a maioria ainda vota emcandidato. Existe uma possibilidade em votar em tendências. Sevocê tem um partido que é mais de esquerda, ele podeatrair um tipo de eleitor, independentemente do candidato. Mas o mais comumé o eleitor votar no candidato que esteja no partido coerentecom suas posições e crenças. Deve haver umacomposição entre a imagem do candidato e aquilo em queo eleitor acredita. Ele não vai votar em um candidato queesteja num partido muito contrário às suas crenças. ABr:O eleitor tende a manter seu voto num determinado partido naseleições seguintes?Fernandes: Issoé interessante. Havia uma linha de pensamento alguns anosatrás em que a eleição para a Prefeitura de SãoPaulo seria sempre uma oposição a quem era o governadorou o presidente na época. Paulistano sempre iria votar contra.Mas não é bem assim, até porque o Alckmin quandoera governador viu o Serra ser eleito prefeito. O que acontece- e não é porque o paulistano decide mudar em todaeleição - é que há a tendência doeleitor votar em partidos de centro-direita, embora o PT tenha sidoeleito em 1998 porque não teve segundo turno e, em 2000,porque havia uma separação muito forte dos partidos decentro-direita e uma avaliação muito ruim do governoPitta. Fora essas duas situações, os eleitores sempreforam de centro-direita e muito mais de direita do que de centro.