Vinicius Konchinski
Enviado Especial
Dourados (MS) - O representante daFundação Nacional do Índio (Funai) em CampoGrande (MS), Claudionor doCarmo Miranda, e o presidente licenciado do Sindicato dos Produtores Ruraisde Dourados, Gino JoséFerreira, admitem que os trabalhos de demarcação deáreas indígenas no Sul do Mato Grosso do Sul podemgerar conflitos na região. Oficialmente, no próximodia 10 de agosto, seis grupos de trabalho começam a levantardados, em 26 municípios sul-mato-grossenses, sobre territóriostradicionalmente ocupados pela etnia Guarani-Kaiowá e que, maistarde, devem ser transformados em reserva.Gino JoséFerreira deixou de representar os produtores rurais de Dourados hátrês meses. Ele pediu licença da presidência do sindicato parase candidatar ao cargo de vereador pelo partido Democratas. Para ele,a situação é clara: se o trabalho de demarcaçãofor iniciado, existe a possibilidade de os proprietários deterra partirem para o confronto.“Se o Poder Públicoe o Judiciário continuarem omissos ao cumprimento da lei, háum sério risco de estourar um conflito”, disse Ferreiraem entrevista à Agência Brasil, ressaltandoque os proprietários de terras dessa região têmtítulos sobre as áreas registrados em cartóriose com validade jurídica.Ferreira disse nãoser contrário à cessão de terras aos indígenasque, segundo ele, vivem em uma situação “caótica”na região. Mas afirmou que, se isso tem de ser feito, ogoverno deve comprar as áreas e depois cedê-las, como éfeito na reforma agrária. De acordo com a legislação vigente, entretanto, em casos de demarcação de reservas indígenas, esse tipo de transação não pode ser feita.Para Claudionor doCarmo Miranda, administrador-executivo da Funai de Campo Grande, asituação criada pelos estudos para a demarcaçãodas reservas Guarani-Kaiowá é mesmo tensa. Ementrevista concedida no início da semana, ele já havia citadoa possibilidade de confrontos durante os trabalhos.“Corre-se o risco dechegarmos a este ponto”, disse ele, comparando a situaçãodo estado com a de Roraima, onde discuti-se a manutenção da demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol e a retirada de não-índios da região. “Isso não seria bom para nós[Funai], o estado, nem para a população.”Miranda destacou,contudo, que os trabalhos de identificação dosterritórios precisam ser feitos, devido àsituação precária dos indígenashabitantes da região. “Não se pode deixar a populaçãoindígena morrer e não se fazer nada.”