Deputado Paulo Pereira foi espionado, segundo documento apresentado à Justiça por coronel

01/07/2008 - 22h53

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Durante depoimento hoje (1º) à Justiça Federal, em São Paulo, o coronel reformado da PM Wilson de Barros Consani Junior apresentou cópia de um documento - protocolado no Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo no dia 18 de outubro do ano passado - em que o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, sugere ser alvo de espionagem política e de investigações não-autorizadas e solicita à Procuradoria a "realização de uma minuciosa investigação" sobre esses fatos.No documento, há também anexado um boletim de ocorrência reclamando de um furto na sede do PDT paulista, partido do deputado. "O deputado tinha percebido, por meio de reclamação de sua filha, que ela estava sendo seguida por carros e que a sede do PDT estava sendo vigiada. O partido foi invadido em novembro do ano passado e foram subtraídas memórias de computadores naquela oportunidade e tudo isso foi protocolado no MPF", explicou o coronel.Depois de depor por quase três horas, Consani disse à imprensa ter entregue o documento à Justiça para "esclarecer a razão pela qual eu fiz a ligação para o deputado Paulo Pereira da Silva". Interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal durante a Operação Santa Tereza, que investiga fraudes em financiamentos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), indicam que Consani Junior teria sido o responsável por avisar antecipadamente o deputado Paulo Pereira sobre a deflagração da operação>"Criaram uma ilação de que eu teria avisado o deputado por conta de conhecer que ele estaria envolvido na história do BNDES. Eu apresentei o documento para mostrar que quando eu avisei o deputado minha ligação foi com esse fato [citado no documento protocolado no MPF em outubro do ano passado] e não que eu soubesse do envolvimento dele em participação no BNDES", disse ele. Consani Junior é investigado na Operação Santa Tereza por suspeita de prestação de serviços à casa de prostituição W.E., que, segundo a Polícia Federal, pode ter sido usada para lavagem do dinheiro obtido em financiamentos no BNDES. O coronel é também suspeito de ter intermediado negociações com o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Antonio Carlos Rodrigues, para manter a W.E. em funcionamento.Aos jornalistas, Consani confirmou ter conversado com o presidente da Câmara para reclamar "de uma arbitrariedade" por parte da prefeitura. "Foi constatada uma irregularidade na parte de construção do flat (anexo à casa de prostituição) e a prefeitura deveria nos dar um prazo para regularizar. Como conheço o vereador, fui perguntar a ele se haveria possibilidade de que a lei fosse cumprida e que nos dessem a oportunidade de fazer a regularização".Consani acredita que sua defesa hoje tenha conseguido deixar clara sua inocência. "Apresentei documentos e acredito que ficou tudo muito claro. E insisto: o relatório da Polícia Federal deixa claro que não é possível estabelecer nenhuma ligação minha com qualquer financiamento que diga respeito ao BNDES", defendeu-se.Também prestou depoimento hoje à Justiça Federal o consultor das Lojas Marisa Boris Timoner, que deixou o local sem falar com a imprensa. Amanhã (2), Consani Junior deve ser ouvido novamente pela Polícia Federal e, no dia 8, deve prestar esclarecimentos ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados como testemunha do deputado Paulo Pereira.