Economista lamenta que Plano Real tenha caído no esquecimento

01/07/2008 - 8h27

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O Plano Real deu certo, embora esteja totalmente ignorado hoje, na avaliação do presidente do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro (Corecon/RJ), João Paulo de Almeida Magalhães. Lançado há 14 anos, o plano teve como  principal objetivo controlar a inflação e reduzir as taxas de juros para que o país pudesse crescer economicamente.Segundo  o economista, o controle da inflação foi atingido, basicamente, como resultado de uma política de rendimentos. “Essa foi a essência do problema da inflação. Tudo o mais foi complementar. Hoje, no Brasil, você está aí fazendo toda  política de contenção monetária, não uma política de rendimentos, que é compatível com o desenvolvimento econômico”, disse.O presidente do Corecon/RJ  reiterou que a lição do Plano Real acabou esquecida porque o Brasil não tem  um sistema acadêmico que mantenha e aprofunde o estudo. “Isso é coisa de país subdesenvolvido”, observou. Magalhães lembrou que, no primeiro ano do real, o Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma das riquezas produzidas no país, cresceu em torno de 8%. O economista criticou a política atualmente praticada pela área econômica do governo que, a seu ver, “imita os Estados Unidos aumentando os juros, com a conseqüência de que as previsões de crescimento de 5% ao ano, nos próximos três anos, já começa a ser revista hoje para baixo”.Magalhães defende a realização de pesquisas como uma forma de “ressuscitar” o Plano Real e mostrar a sua eficiência. “Acho que o Plano Real é uma coisa que o pessoal devia voltar a ler. Estudar os debates teóricos para tentar recompor um pouco aquela fórmula heterodoxa, que foi uma fórmula brasileira”. Para ele, o esquecimento dos princípios do real é algo “lamentável”.O economista sugeriu uma mudança na política econômica vigente, para evitar o retorno da ameaça da inflação. “E não é com o Meirelles [Henrique Meirelles, presidente do Banco Central], aí, que ele [o governo] vai mudar [a política econômica]”.O presidente do Corecon analisa que o problema da inflação e da prática de alta dos juros "parece sem solução". Ele afirmou que os próprios pais do Plano Real acabaram, em sua grande maioria, virando banqueiros. “E para os banqueiros, o que interessa é essa política na base da taxa de juros, porque são eles que recebem os juros. Os banqueiros, hoje, estão ganhando R$ 160 bilhões ao ano com os juros, que é mais do que o Brasil gasta em segurança, em saúde, educação. Mudar isso é muito difícil”, afirmou. Magalhães citou o exemplo da Argentina, que está tentando aplicar uma política de rendimentos e também o caso da China, que tem uma inflação nos níveis do Brasil. "A China, no entanto, cresce três vezes mais do que o Brasil e tem juros, se não forem negativos, na  faixa de 1%”.