Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Ao contrário da dívida interna, que disparou no Plano Real, a dívida pública externa deixou de ser o fantasma que incomodou os brasileiros por décadas. Beneficiada pelo dólar barato e pela entrada de capitais estrangeiros, a dívida externa líquida do setor público registrou altos e baixos em 14 anos de estabilidade econômica, mas atualmente está negativa.Desde 2006, o Brasil é credor público externo, tendo mais dinheiro a receber do que a pagar no exterior. Atualmente, segundo os números divulgados ontem (30) pelo Banco Central, a dívida externa está negativa em 9,2% do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de tudo o que o país produz. Isso equivale a R$ 263 bilhões disponíveis para entrar no país.Esse desempenho tem servido como instrumento para compensar o salto da dívida interna pública, que passou de 22% para 50% do PIB no Plano Real. Ao levar em conta a dívida externa negativa do setor público (formado pelo governo federal, estados, municípios e estatais), essa proporção cai para 40,8%, o que representa o menor nível da dívida pública desde dezembro de 1998.O comportamento da dívida pública externa, no entanto, nem sempre ajudou o governo no Plano Real por causa das oscilações do câmbio ao longo dos últimos 14 anos. Em julho de 1994, o setor público brasileiro devia o equivalente a 10% do PIB para os credores externos. Com a sobrevalorização do real, a dívida externa caiu nos quatro anos seguintes, atingindo 1,74% do PIB em abril de 1998.A crise da Rússia, porém, alterou a trajetória da dívida pública externa, que passou a subir de forma consistente até ficar em torno de 10% do PIB após a desvalorização do real, em 1999. Essa proporção manteve-se até meados de 2002, quando o dólar chegou a R$ 4, o que provocou nova alta.Em setembro de 2002, a dívida externa líquida do setor público atingiu 15,6% do PIB, o maior nível do Plano Real. Com isso, a dívida pública (interna e externa) registrou 56% do PIB naquele mês, também no patamar mais alto desde 1994.De lá para cá, no entanto, a avaliação dos investidores internacionais sobre o Brasil melhorou. O dólar voltou a cair, empurrando a dívida externa pública para baixo. As condições favoráveis permitiram ao governo, no segundo semestre de 2005, trocar os C-Bonds, títulos internacionais criados em 1994 para negociar o calote que o Brasil deu na dívida externa nos anos 80, por papéis menos dispendiosos para o país.Em abril de 2006, o Tesouro Nacional resgatou os últimos títulos vinculados à reestruturação da dívida externa da década de 80. Dois meses depois, o governo brasileiro passou a ter mais recursos a receber do que a pagar. Foi quando o país deixou de ser devedor para tornar-se credor público externo. Nos meses seguintes, a diferença foi se ampliando, até o Brasil registrar dívida negativa em torno de 9% do PIB.No decorrer da história brasileira, a dívida externa serviu de estopim para crises econômicas. Chegou, inclusive, a ser considerada uma das responsáveis pela hiperinflação que assolou o país nos anos 80, depois que os Estados Unidos aumentaram os juros e multiplicaram a dívida de nações em desenvolvimento. O fim da dívida externa pública, avaliam especialistas, foi determinante para que o país ganhasse o grau de investimento, passando a ser considerado seguro para as aplicações estrangeiras.