ENSP vai coordenar projeto para melhorar funcionamento de hospitais públicos

03/06/2008 - 23h08

Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Gestores de saúde de vários estadose técnicos do Ministério da Saúde, coordenadospela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), estãodispostos a criar um sistema nacional capaz de apoiar a implantaçãode reformas na gestão de hospitais públicos do paíspara melhorar os serviços prestados à população.Aidéia é adaptar à realidade brasileira umaestratégia utilizada com sucesso para fazer a reformahospitalar francesa, que vem ocorrendo desde os anos 90.A proposta foi o principal resultado do Semináriosobre Estratégias e Sistemas de Monitoramento e Apoio àsReformas Hospitalares, encerrado hoje (3) em Brasília. Duranteo evento, foram apresentadas experiências de paíseseuropeus e latino-americanos para melhorar a gestão de seushospitais públicos.De acordo como coordenador doPrograma de Gestão Hospitalar da ENSP, Pedro Barbosa, um grupode técnicos foi formado hoje para elaborar o projeto decriação do que seria um Centro de Monitoramento e Apoioà Reformas Hospitalares no Brasil.Como na França,o centro teria a função de disseminar técnicas econhecimentos para a modernização de hospitaispúblicos, disponibilizando especialistas, consultores da áreapública, que iriam aos hospitais ajudar a melhorar ofuncionamento de seus setores críticos.“Háespecialistas que podem perfeitamente apoiar os hospitais que queiramse modernizar, indo lá e ajudando a organizar um centrocirúrgico, emergência, os serviços deambulatório, de radioterapia, de tal modo que a gente váprovocando melhorias, inclusive pequenas, mas que causam muitoimpacto”, explicou.Segundo o pesquisador, a falta definanciamento é também um dos problemas dos hospitais,mas torna ainda mais urgente a necessidade de modernizaçãoda gestão.“O modelo hospitalar públicobrasileiro é o mesmo de 40 anos. Nós estamos hádécadas achando que os hospitais podem continuar iguais.Enquanto várias organizações, como asindústrias, foram se modernizando, nos hospitais fizemos poucacoisa. Ao longo desse período formamos médicos, mas nãoformamos profissionais de gestão”, lamentou Barbosa.Paraele, os problemas enfrentados pelos hospitais públicos sãoimpostos pela falta autonomia na gestão, já queburocracia e centralização “engessam” orçamento,impedem a contratação de profissionais e tiram aflexibilidade necessária para a busca de soluçõescriativas e eficazes.“Há uma baixa autonomia dohospital. Os dirigentes não têm poder para tomardecisões porque dependem do secretário de Saúde,do secretário de Administração, do ministério,de um orçamento engessado que mesmo quando é adequadonão está disponível com fluxo regular”,afirmou.Entre as incoerências que ocorrem pela falta deautonomia, Barbosa citou casos em que sobram recursos para compra deequipamentos e falta dinheiro para comprar medicamentos, mas oadministrador não pode direcionar as verbas para atender o queé necessário.Para ele, o atual modelo deadministração hospitalar pública éincompatível com as situações diárias deprestação de serviço “na ponta”.“Oshospitais são as organizações mais complexas dese administrar na sociedade, não só por lidar com avida humana e necessariamente com a velocidade, mas também comtecnologias, equipamentos, medicamentos e profissionais cada vez maisdiversos. É um conjunto de recursos que tem que seradequadamente operacionalizados e agilizados.”Barbosadestacou mudanças positivas adotadas em alguns estados, comoem São Paulo, onde há 10 anos os hospitais foi foramassumidos por organizações sociais ligadas a entidadesfilantrópicas e universidades, e no Rio de Janeiro, onde estãosendo criadas fundações estatais para administrarunidades hospitalares.Para ele, as fundaçõespúblicas são instrumentos eficientes para dar autonomiae eficiência aos hospitais sem retirar do Estado suaresponsabilidade pela prestação do serviço.Segundoo pesquisador, todos países estão buscando novosmodelos de gestão para tornar mais eficientes seus sistemas, afim de multiplicar os recursos, como foi mostrado no encontroencerrado hoje. Na França, desde 1991, os hospitais públicospassaram a ser administrados por empresas estatais sociais de saúde,com autonomia e profissionalização para cumprir metas eresultados definidos. No Chile, a partir de 2004, foi introduzida aauto-gestão dos hospitais públicos.A atuaçãodo grupo de trabalho formado hoje para criação doCentro de Monitoramento e Apoio à Reformas Hospitalares vaicomeçar pelo fortalecimento da cooperação com oórgão nacional de saúde da França e deveincluir uma viagem ao país europeu no segundo semestre desteano.