Vigilante trabalha 96 horas por semana e ganha R$ 4,40 por hora

03/06/2008 - 15h53

Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O vigilante Marcos Paulo Rosa, de 36 anos, passa mais tempo trabalhando do que em casa, com a família. Com jornada de trabalho semanal de 96 horas, de domingo a domingo, restam a ele apenas 72 horas de descanso na semana – isso sem contar o tempo de deslocamento entre sua casa e os dois locais de trabalho.Com esse esforço, ele ganha aproximadamente R$ 1.700 por mês, ou cerca de R$ 4,40 por hora. Vigilante privado há 11 anos, Marcos Rosa tem entre suas atribuições a de garantir a segurança de um prédio de 22 andares no centro do Rio de Janeiro, onde funcionam repartições públicas federais.Como o salário que recebe na empresa, onde sua jornada semanal é de 60 horas, não chega a R$ 1 mil, ele precisa  complementar a renda trabalhando para outra firma de segurança privada. São mais 36 horas semanais, como vigilante de um shopping center da zona oeste da cidade, para ganhar mais cerca de R$ 700.O resultado de uma jornada de trabalho como essa é o cansaço: "Como eu trabalho aqui num prédio, o risco de cansaço existe. Se não houver uma movimentação, e você trabalhar em um andar sem ninguém, o cara desmaia de cansaço."Outro problema é o estresse: "Tem colegas em que bate o estresse. Eu já trabalhei estressado. Quando comecei no shopping, eu me estressei muito porque meu horário era de meio-dia a meia-noite. Eu não tinha condições de ir para casa. Então, batia o estresse e pensava: 'Hoje não estou a fim de trabalhar. Vou trabalhar de qualquer jeito'", contou o vigilante, que tem, como instrumento de trabalho, um revólver.Apesar dos riscos que a profissão de segurança oferece, Marcos disse que não teme pela vida. Para ele, o trabalho policial é muito mais perigoso que o de vigilante. "Eu tive oportunidade de entrar para a PM [Polícia Militar]. Mas eu vou fazer o quê? Tenho família. Tenho minha filha. Como PM, você sabe que está saindo, mas não sabe se vai voltar. Na segurança privada, não tenho esse medo. Há os riscos, mas você sabe que vai voltar para casa, porque os riscos são pequenos." Executivo de uma empresa de segurança privada, Ronaldo Toneloto, que tem mais de 15 mil funcionários em vários estados, concorda que os salários dos vigilantes são baixos. “Os salários, pela atividade e pelo risco em si, são muito baixos. Não são condizentes com a carreira. Poder-se-ia melhorar o salário, para que houvesse aí uma atratividade maior para que as pessoas procurassem até mais.”O pesquisador André Zanetic, da Universidade de São Paulo (USP), disse que os salários dos vigilantes ainda são baixos, inferiores inclusive aos das polícias, mas ressaltou que estão melhorando. "O salário, nos últimos anos, tem crescido em ritmo maior do que o das forças públicas. Mas ainda, em média, é menor”, explicou o especialista.