Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Quem planeja voar para qualquer paísda América do Sul durante as férias de julho não deve se animar com aresolução da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) que autorizou asempresas aéreas a conceder, desde o último domingo (1º), até 80% de descontosobre os valores de referência das passagens.
Segundoo presidente do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea), JoséMárcio Mollo, com a atual alta do preço do petróleo, é impossívelafirmar que as empresas aéreas terão condições de conceder qualquerdesconto em suas operações. As companhias não são obrigadas a concederos descontos.
“Não dá para prever se vai ou não haver uma queda nopreço do bilhete [apenas devido à resolução da Anac]”, declara Mollo.“Só este ano, o preço do QAV [Querosene de Aviação] já subiu31,5%. A despesa das empresas com combustíveis, que significava algo emtorno de 30% dos gastos, já está na faixa dos 45% devido a esseaumento”.
Mollo afirmaque, ainda que os combustíveis não estivessem mais caros, seria difícilque os usuários encontrassem preços muito melhores para viajar emjulho, uma vez que a Anac autorizou o aumento dos descontos muitopróximo do início da alta temporada, quando boa parte dos pacotesturísticos e das passagens já foi vendida. “Os aviões paraArgentina, Chile, Estados Unidos e Europa já estão lotados. Se houveruma queda de preços será no segundo semestre, após a alta temporada, econsiderando o comportamento do preço do petróleo”.
Onovo aumento do percentual de descontos é a segunda etapa do plano deliberação gradual das tarifas aéreas para vôos com destino a paísessul-americanos. Durante a primeira fase, que entrou em vigor em 1ºmarço, a Anac permitiu que as empresas nacionais e estrangeiras queoperam no Brasil, voando para os países vizinhos, elevassem de 30% para50% os descontos concedidos sobre o valor de referência fixado pelaAssociação Internacional de Transporte Aéreo, (Iata - do inglêsInternational Air Transport Association).
Emborapouco otimista em relação aos efeitos da segunda etapa da liberaçãotarifária, Mollo afirma que a primeira fase do planoproporcionou uma pequena redução dos preços dos bilhetes para paísessul-americanos. O Snea, no entanto, ainda não tem informações precisassobre a variação dos preços das passagens entre março e maio.
Segundoo cronograma da Anac, as empresas brasileiras têm mais três meses parase preparar para a competição com as rivais estrangeiras que disputamos mercados vizinhos. A partir de setembro próximo, concluída a segundaetapa, a agência vai liberar integralmente os descontos, de forma que nos vôos para a América do Sul cada companhia vai poder fixar o preçoque quiser.
Mollo diz que aliberalização dos descontos já estava prevista em um acordo de 1996 eque, desde então, as companhias nacionais vêm se preparando. “Já naépoca, as empresas apoiaram essa liberação. Portanto, elas estãoabsolutamente tranqüilas quanto à concorrência contra as empresasaéreas da América do Sul”.
Aliberação gradual das tarifas também deve alcançar, em breve, as rotaspara países da América do Norte, Europa, Ásia, África e Oceania. Mollodiz que também nesses casos as empresas brasileiras não querem reservade mercado, mas pedem cautela do governo.
Não somos contra essaliberação, mas as companhias nacionais não querem que isso seja feitoem curto período de tempo, sem que antes sejam removidos os impassesque impedem as empresas brasileiras de competir com as européias enorte-americanas”, disse Mollo, citando carga tributária, legislaçãotrabalhista, custos do leasing e do seguro dos aviões. “As empresasbrasileiras têm um ônus de administração muito maior que o daseuropéias e norte-americanas, empecilhos criados pelo chamadoCusto-Brasil”.