Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A Operação Carta Branca, que desbaratou hoje (03) uma organização criminosa que falsificava carteiras de habilitação em São Paulo, investiga a participação da Corregedoria do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) no esquema. Segundo o promotor Marcelo Oliveira, do Grupo de Atuação Especial Regional de Prevenção e Repressão ao Crime Organizado (Gaerco) de Guarulhos, “a investigação terminou com grandes indícios de que a Corregedoria do Detran recebeu dinheiro para não fazer a parte dela numa correição extraordinária que houve no dia 29 de abril”. Nesse dia, de acordo com ele, a corregedoria teria que apreender um lote de Carteiras Nacional de Habilitação (CNH) emitidas de Ferraz de Vasconcelos para o Rio Grande do Sul. “Houve duas ligações bastante significativas entre os integrantes da quadrilha levantando dinheiro”, afirmou. Em uma das ligações de um dos presos para um amigo, ainda não identificado, o promotor diz que houve o seguinte diálogo: “Eles [do Detran] vieram para fritar, para levantar tudo mesmo. Quiseram levar mais de oito mil processos, mas você sabe como é: nada como uma boa conversa. Então, cada auto-escola vai ter que dar a sua parte. Você pode me trocar um cheque de R$ 10 mil?”.Em um outro diálogo, de acordo com o promotor, outros dois presos na Operação Carta Branca falam sobre a presença da Corregedoria do Detran na Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran) em Ferraz de Vasconcelos. “Você tem algo em espécie aí?”, diz o primeiro. “O que você quer? Por quê?”, responde o outro. “Corregedoria. Estamos tendo visita”, diz novamente o primeiro. “O que eles querem? Cash [palavra em inglês para dinheiro vivo, em espécie]?”. “Sim, querem cash.” “Essa indiscriminada venda de CNH para o Brasil inteiro causou muito problema para a quadrilha porque, por exemplo, eles venderam carteira de motorista para um sujeito que tinha o pé torto, que atropelou um motoqueiro. E a partir de um incidente gerado por uma falha dessa, iniciava-se uma mobilização gigantesca para ir ao local, subornar quem estivesse no local para que aquilo não se tornasse um boletim de ocorrência”, explicou o promotor. Segundo ele, durante a operação também ocorreram inspeções da Receita Federal em postos de gasolina e estabelecimentos suspeitos de lavar dinheiro.Questionada pela Agência Brasil, a assessoria de imprensa do Detran disse que ainda não foi informada oficialmente sobre qualquer irregularidade envolvendo funcionário público do órgão. “Portanto, cabe à Corregedoria da Polícia Civil qualquer manifestação nesse sentido.".Já sobre a denúncia de que a Corregedoria do Detran tenha agido irregularmente durante uma correição extraordinária na Ciretran de Ferraz de Vasconcelos, a assessoria informou que identificou irregularidades no local, “como o desaparecimento de arquivos e não localização de processos de emissão de CNH”. Segundo o Detran, “tais irregularidades geraram dez procedimentos administrativos para apuração das supostas irregularidades, envolvendo, inclusive, clínicas médicas e psicólogos”. “Informamos que o Detran bloqueou mais de 30 mil CNHs no estado por irregularidades e que há um ano a direção do departamento alertou os diretores dos Departamentos do Interior (Deinters) sobre a necessidade de fiscalizar e controlar as atividades das Ciretrans, uma vez que tais órgãos de trânsito são subordinados às delegacias seccionais dos municípios e não aos Detrans”, diz nota do Detran.O corregedor da Polícia Civil, José Antonio Ayres de Araújo, disse que um inquérito já foi aberto para apurar a participação da Corregedoria do Detran e de delegados e policiais civis no esquema.