Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Além de aparelhar a fiscalização, para garantir a punição dos crimes de trânsito, é necessário fortalecer a educação dos jovens sobre o tema, para gerar mudanças culturais capazes de reduzir o número de acidentes, que matam cerca de 35 mil pessoas por ano no país.O alerta é do mestre em Sociologia e especialista em segurança no trânsito Eduardo Biavati. Para Biavati, é preciso recriar o padrão cultural vigente de desrespeito às regras de trânsito, por meio da fiscalização, mas também conscientizando os jovens sobre o que está por detrás delas, como, por exemplo, os riscos de lesões cerebrais e medulares envolvidos na infração.“O trabalho de educação, especialmente com os jovens, tem que ser reforçado para recriar um novo fundamento de obediência à regra. A gente obedece a regra não só para não se dar mal, por que a polícia está ali, mas também porque quer se preservar”, afirmou. Segundo ele, os esforços de educação para o trânsito no país estão equivocados e precisam ter seu foco alterado. “O problema antigo e atual da educação de trânsito é que ela é uma educação de criancinha. A gente vê as prefeituras e Detrans muito concentrados em teatros de fantoches, mimicidades, para treinar crianças desde cedo, com 4 ou 5 anos, e quando se chega aos 12, 13 anos, na boca da adolescência, quando a coisa começa a pegar fogo, não há escolas que façam um trabalho. O assunto some, evapora”, lamentou.Ele reconhece as dificuldades para falar aos jovens, principalmente na sociedade individualista na qual eles estão sendo formados. “Hoje, o individualismo é tão exagerado que nem adianta falar para eles dos milhões de reais gastos pelo país com os acidentes. As categorias coletivas acabaram: cidadania, pátria, isso não faz o menor sentido para eles. Temos que reiventar essa conversa com a garotada”, disse, lembrando que é preciso desenvolver novas linguagens e formatos para que as inciativas surtam resultados.Biavati destacou ainda a necessidade de tornar a fiscalização e a punição das infrações mais eficazes para conseguir mudar a cultura de descumprimento das leis de trânsito. “Nos Estados Unidos e Inglaterra culturalmente há a certeza da punição pela infração da regra e aqui no Brasil ocorre o oposto, há certeza da não-punição. Lá, as pessoas têm em mente o que se vê nos filmes: o guarda que aparece exatamente na hora em que o motorista está desrespeitando a regra. Aqui, a melhor maneira de matar alguém hoje é atropelá-la, bater com o carro. É a forma mais segura para o criminiso, porque nunca se vai preso por isso”, disse Eduardo Biavati. O especialista conversou com a Agência Brasil, na última sexta-feira (30), pouco antes de proferir mais uma das dezenas de palestras que já ministrou sobre o assunto nos últimos anos para o público jovem. Desta vez em Barra do Garças, no Mato Grosso, onde o Detran está promovendo, desde o início do mês de maio, um ciclo de palestras em escolas de ensino médio e universidades de várias cidades para inserir temas relacionados ao trânsito no contexto educacional. A iniciativa foi criada depois que a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) apontou o Mato Grosso entre os estados brasileiros com os piores índices de acidentes de trânsito.