Na América Latina, violência preocupa mais do que pobreza, diz consultor da ONU

26/05/2008 - 21h43

Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O problema da violência já preocupa maisa população da América Latina do que temas como a pobreza e o desemprego. A afirmação é do ex-secretário de Segurança Pública de Bogotá e um dosprincipais responsáveis pela redução da violência na Colômbia Hugo Acero que participou hoje (26) de um seminário no Rio de Janeiro. Entre os países latino-americanos, Acero afirma que se preocupa, de maneira especial, com a situação daVenezuela onde a violência vem “em um crescente desde a decisão do presidenteHugo Chávez de armar os cidadãos defensores da revolução”.“A partir dessa decisão os confrontos entre facções diversasvem crescendo, como também vem crescendo o narcotráfico no país. A Venezuela éo país onde a violência vem crescendo mais rapidamente entre todos os outrosdo continente”, afirmou.Os dados divulgados pelo ex-secretário de segurança deBogotá, um sociólogo de 46 anos que hoje é consultor do Programa dasNações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), indicam que Caracas já é a terceiracidade mais violenta das Américas com uma taxa de homicídio de 87 mortespor grupos de 100 mil habitantes.Os dados – compilados pelo Pnud Bogotá sobre a violência nasprincipais cidades das Américas – indicam que existem outras duas cidades onde a taxa de homicídios fica acima de 90 por grupo de 100 mil habitantes:Cidade da Guatemala e San Salvador, onde a proporção é de, respectivamente, 99e 90 homicídios por grupo de 100 mil habitantes. Em seguida vem a cidade de Recife (PE), onde a taxa dehomicídio chega a 67 por grupo de 100 mil. No Rio de Janeiro a taxa é de 49homicídios por grupo de 100 mil habitantes.Os dados foram divulgados por Acero em seminário naUniversidade Cândido Mendes, no centro do Rio. Durante o evento, ele discutiu oproblema da violência com lideranças da AfroReggae – organização não-governamental (ONG) que desenvolvetrabalhos sociais em favelas do Rio voltados para a redução da criminalidade eda violência e também para a retirada de jovens do tráfico.Para a coordenadora deDesenvolvimento Social da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência ea Cultura (Unesco), Marlova Noleto, a experiência na área de segurança pública de Bogotá - que reduziu os números da criminalidade  local - pode ajudar na implementação de políticas no Brasil. “Primeiro porque foi realizada e desenhada em territórios conflagrados, emzonas de muito conflito, como é o caso das favelas cariocas. É uma experiênciaque promove uma reação forte da polícia – reabilitada etrabalhada para lidar com o cidadão também sob a perspectiva do direito”, afirmou.De acordo com a Unesco, a ação da polícia é fundamental, mas,sozinha, não resolve o problema da criminalidade e da violência. “É preciso quehaja um conjunto de políticas sociais nas favelas, medidas como as que propõemo Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania do Ministério daJustiça, ou como as que o governador Sérgio Cabral vem tomando com seus programassociais, que, combinadas com a ação da polícia, pode contribuir para a reduçãoda violência”, afirmou.