Da Agência Brasil
Brasília - A decisão do Secretariado das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) de indicar Alfonso Cano parasubstituir Manuel Marulanda no comando da guerrilha traz aexpectativa de que é possível chegar a uma negociaçãoque estabeleça a paz entre o governo e o grupo rebelde. Aopinião foi manifestada por políticos colombianasouvidos pela BBC Brasil para comentar o processo de sucessãonas Farc.Negociador das Farc em 1991 e 1992, Cano é tido como um dos ideólogos da guerrilha e é considerado mais moderado do que o guerrilheiro Mono Jojoy, outro nome apontado como um possível sucessor de Marulando, morto em razão de um ataque cardíaco, no final de março, conforme confirmou a guerrilha no último fim de semana."[A escolha de Cano] deve ser um sinal de que a parte política das Farc irá, de verdade, de uma vez por todas, entender que é por meio de uma solução política negociada que poderemos fazer a paz”, diz o ex-presidente colombiano Andrés Pastrana (1998-2002), que participou de negociações de paz com Marulanda em 1999 e 2002.“Alfonso Cano sempre foi o homem que liderou essa ala política dentro das Farc”, afirma. E acrescenta: "Esse é o momento definitivo para que pensem em deixar as armas.”A senadora colombiana Piedad Córdoba, que atua como facilitadora do acordo humanitário para a libertação de reféns da guerrilha em troca da libertação de rebeldes presos, diz conhecer o novo líder das Farc e também mostra otimismo com as perspectivas de negociação de paz.“Cano é um homem político com uma estrutura ideológica muito séria, propenso à paz na Colômbia e por uma saída negociada do conflito”, afirma. Para a senadora, com Cano “haverá possibilidades de trabalhar” para alcançar novas libertações.No entanto, o clima de vitória que poderia se fazer sentir em setores do governo de Álvaro Uribe diante da perda sofrida pelas Farc poderia prejudicar uma saída dialogada para o conflito armado. É o que adverte o ex-presidente Ernesto Samper (1994-1998), que considera “previsível” que alguns grupos do governo e as Forças Armadas “caiam em um triunfalismo militarista”."Não há nenhum conflito que não tenha terminado com uma saída política, assim são as coisas, e o governo não pode pretender que pela via militar se exterminará o referido grupo armado”, afirmou Samper.