Aumento da demanda mundial vai repercutir nos preços do varejo, diz presidente da ABAD

26/05/2008 - 18h29

Alana Gandra e Danilo Macedo
Repórteres da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O setor atacadista distribuidor nacional está alerta para um possível aumento da demanda mundial por produtos básicos, com destaque para alimentos, o que, na opinião do presidente da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad), Geraldo Caixeta, pode acabar repercutindo sobre os preços no mercado brasileiro, pressionando-os para cima. O alerta sobre o risco de repasse do aumento de preços no atacado  para o varejo já havia sido feito pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em entrevista exclusiva à Agência Brasil, publicada no último dia 24.

Em abril, por exemplo, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgou que o Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI), variou 1,12% pressionado, principalmente, pelos preços no atacado, que subiram 1,30% contra 0,80% em março.

O aumento dos preços no atacado, segundo explicou hoje (26) Geraldo Caixeta, é determinado pelos produtores e controladores das commodities, que são produtos básicos comercializados no mercado internacional, como soja, aço, trigo, milho. O fenômeno não ocorre só no Brasil, mas é mundial, destacou. “O Brasil vai pagar por isso. Mas [não será] nada de assustar. Os países estão consumindo mais, mas não têm a estrutura de produção que tem o Brasil. Essa é a nossa sorte. O mercado nosso, apesar do aumento de preços, está bem  abastecido e não tem falta de produto”, ressaltou.

Segundo Caixeta, a alta concorrência no setor atacadista éo que impede que o aumento dos preços no atacado sejarepassado integralmente ao varejo. Ele disse que o setor vemsegurando a inflação do mercado. “Acontece mais uma redução nonosso rendimento do que um repasse integral ao consumidor. Entre osatacadistas, há muita concorrência. Se eu aumento o preço,tem 30 concorrentes para vender pelo preço antigo. A pressãoé muito grande para reduzir a margem de lucro”, disse.

A ABAD funciona como um canal de distribuição de produtos de consumo industrializados para a rede de pequenos e médios varejistas. O presidente da entidade afirmou que o setor busca levar aos clientes preços competitivos. “A pressão é para que eu tenha sempre preço cada vez mais competitivo”, observou. “Ele [o setor] negocia com a indústria, agrega seu serviço, suamargem, e distribui  os produtos. Se vier aumento é porque veio aumentolá da origem. Não de nós”, argumentou.

Caixeta admitiu, entretanto, que se o aumento é gerado na indústria, o setor atacadista distribuidor não tem como impedir que ele seja repassado para o varejo. Ele lembrou que o aumento de produtos como aço, soja, lácteos, verificado no mercado internacional, certamente, será agregado aos preços no varejo. “Mas isso vem da origem. Não do atacado distribuidor”, reforçou.

Ele disse ainda que, na esfera atacadista, o grande  gerador de alta de preços é o aumento da demanda de produtos de consumo básico a nível mundial. Caixeta descartou, no entanto, que esteja ocorrendo problemas de oferta, apenas esclareceu que houve uma retração, o que explicaria a falta de trigo no mercado internacional, por exemplo. Para Caixeta, o impacto maior na alta dos preçosestá em setores em que a concorrência não existeou é muito pequena. “O aumento dos preços vemda origem, do setor de petróleo, fertilizantes, que nãotêm concorrência. Se você analisar a curva doatacado e do varejo, você vai perceber que a do varejo ébem menor. Nós estamos segurando a inflação”, disse.Ele considerou inócua a política de juros adotada pelo Banco Central para controlar a inflação. A seu ver, a política de elevação dos juros pode ser mais um fator de pressão para o aumento dos preços.

Hoje, segundo o presidente da Abad, a dívida das empresas é alta em função dos juros e os empresários que não estão endividados vão querer remunerar o capital em função do aumento dos juros. “Então, vai  aumentar custo financeiro, que vai acabar indo para os produtos”, previu.

Para ele, o dólar já se desvalorizou ao máximo, fenômeno que não terá mais repercussão no controle dos índices inflacionários. Caixeta acredita que a opção de aumentar os juros continue sendo adotada em função do limite de desvalorização do dólar.

“Quando você aplica uma política de juros para valer para todo mundo, com certeza isso vai ser distribuído para todo mundo. Eu não acho correta essa política de aumentar de maneira generalizada os juros para, com isso, controlar a inflação”.