Lula diz em entrevista na TV que aumento dos combustíveis não vai alimentar a inflação

06/05/2008 - 0h40

Da Agência Brasil

Brasília - Em entrevistaconcedida na noite de ontem (5) no Palácio do Planalto aojornalista Heródoto Barbeiro e exibida pela TV Culturade São Paulo no Jornal da Cultura, o presidente LuizInácio Lula da Silva falou sobre os principais temas daeconomia que repercutem no país, como a obtençãodo grau de investimento, o reajuste de preços doscombustíveis, controle da inflação.Lula tambémcitou iniciativas na área de desenvolvimento como o Programade Aceleração de Crescimento (PAC); falou dos gastos dogoverno; da greve dos servidores públicos, da políticaindustrial para o Brasil, que será lançada no dia 12..Sobre a classificaçãodo Brasil como país com grau de investimento, anunciada nasemana passada por uma agência internacional de risco, Lulavoltou a recomendar “euforia comedida, porque o jogo tem muitotempo pela frente”. Segundo Lula, ainda leva algum tempo para quese consolide o processo macroeconômico do país, de modoa se transformar em uma grande nação com uma grandeeconomia.Entrada do paísno grupo dos mais industrializados:“Acho que háuma movimentação, vários países queparticipam do G8 estão defendendo que hoje éincompatível reunir o G8 sem reunir o Brasil, sem reunir aChina, sem reunir a Índia, sem reunir o México. Comovocê vai discutir meio ambiente hoje sem estar o Brasilpresente, como é que você vai discutir alimento semestar presente o Brasil? Então, eu penso que o mundo vaievoluir, não para que o Brasil faça parte do G8, maspara que mais países componham esse grupo seleto que discuteos rumos da economia mundial”.Preço dos combustíveis einflação:“O aumento dos preços dos combustíveisnão vai alimentar a inflação porque nósfizemos um jogo combinado. Nós fizemos o reajuste da gasolinae o reajuste do óleo diesel para a Petrobras e ao mesmo temponós reduzimos a alíquota da Cide [Contribuiçãode Intervenção no Domínio Econômico]para permitir que o aumento não chegasse ao consumidor.Portanto, quando você for num posto de gasolina, o preçoda gasolina tem que estar o mesmo, não pode ter aumentado”.Entrada de dólares no país:“Às vezes fico pensando tudo o que eu jásonhei, tudo o que eu já ouvi, tudo que um brasileiroreivindicou nos últimos 50 anos era que o Brasil se dotasse decredibilidade para receber a entrada de muitos dólares. Nahora que essa situação se apresenta, aparecem aspessoas com medo de que vai entrar muito dólar. Primeiro, euquero que entrem todos os dólares do mundo no Brasil. Segundo,eu acho que temos que ter mecanismos para não misturar o dólarque entra para o setor produtivo, para construir uma fábrica,para gerar um emprego, com o dólar que vem para a especulação".Anúncio da política industrial:“No dia 12 nós vamos ao Rio de Janeiro,na sede do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômicoe Social], lançar uma proposta de políticaindustrial para o Brasil, que tem política de inovaçãotecnológica, que tem política de incentivo àsexportações, que tem política de desoneração.Acho que é o mais importante movimento para o desenvolvimentoindustrial do Brasil que aconteceu nesses últimos 50 anos. Nósvamos anunciar no Rio de Janeiro, no próximo dia 12 [demaio]”.Gastos públicos:“Nós não gastamos muito porque nãotemos muito. Há muito sofisma sobre a questão do Estadobrasileiro. Importante não é discutir se o Estado custamuito ou custa pouco. Importante é discutir a qualidade doserviço que o Estado presta ao contribuinte brasileiro. E nósnão prestamos um bom atendimento. É preciso que a gentepreste um bom serviço e, para isso temos que fazer asreparações nas categorias profissionais que trabalhamno Estado”.Investimento em infra-estrutura:O PAC [Programa de Aceleração doCrescimento] é, possivelmente, o mais importanteinvestimento que esse país já fez. Eu digo sempre que oúltimo grande investimento em infra-estrutura foi feito nogoverno [Ernesto] Geisel”.Política industrial:“O Brasil precisa se transformar numa plataformade exportações de vários produtos que nósfabricamos, não apenas commodities, mas de carros, detelefone celular, de software. Por isso é que nós vamoslançar a política industrial, para ver se ela contribuipara a gente exportar muito mais e fomentar e incentivar os nossosexportadores”.Greves de servidores:“Primeiro, eu defendo a liberdade da autonomiasindical. Segundo, defendo o direito de greve, Agora, as pessoasprecisam compreender que eu ganho um salário pelos dias quetrabalho, pelas horas que trabalho. Se eu não trabalho, queroficar em greve 30 dias, 20 dias, 40 dias, 50 dias, e eu [recebo]o salário, isso não é greve, são férias.Então, a ordem que o Ministério do Planejamento tem édescontar os dias das pessoas que estão em greve”.Redução da jornada de trabalho:“Passei parte da minha vida lutando pela reduçãode jornada de trabalho. Acho que ela pode significar um bem para oBrasil. Acho que é um debate que o governo precisa fazer juntocom a sociedade, junto com os sindicatos, junto com os empresários,para ver se chega à conclusão. Se for, do ponto devista da geração de emprego, da distribuiçãode renda, uma coisa palatável, que se faça. Se nãofor, vamos fazer no momento que precisa ser feito”.Aposentadorias:“É humanamente impossível vocêfazer um fator previdenciário, você igualar para ostrabalhadores aposentados o aumento que você dá para osalário mínimo, ou seja, não tem caixa, nãotem dinheiro para isso. É simplesmente isso. Então, eupenso que a Câmara vai tratar de fazer o debate com maturidadee a mim não tem nenhuma preocupação. Quandochega naquela mesa ali, para sancionar ou vetar, o que pesa nãoé o comportamento pessoal do Lula, não é avontade pessoal do Lula ser humano, o que pesa é aresponsabilidade minha de uma coisa chamada instituição,presidência da República, e aí eu ajo comopresidente”.Desmatamento:“Os dados do INPE (Instituto Nacional dePesquisas Espaciais) têm demonstrado ao longo do tempo que nósjá diminuímos, praticamente, em 59% o desmatamento.Acho que, além de ver a foto, você tem ir lá parasaber se é desmatamento na selva amazônica ou édesmatamento de alguma área que já estava desmatada.Mas de qualquer forma, o Ministério do Meio Ambiente, e oIbama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos NaturaisRenováveis), nunca, nem de perto, tiveram as condiçõesque têm hoje para fiscalizar o desmatamento e cuidar do meioambiente no Brasil”. Biocombustíveis:“Vejo o etanol e o biodiesel como a salvaçãopara alguns países africanos e para alguns países daAmérica Latina. Cada um tem que dar a sua contribuiçãopara a gente diminuir o aquecimento global. Enquanto os chamadosinteligentes do mundo não encontram outro combustívelmelhor para dirigir os carros sem poluir, o Brasil, humildemente,está oferecendo etanol de muita qualidade”.