Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Apesar das declarações do presidente do Comitê Cívico do Departamento (estado) de Santa Cruz, na Bolívia, Branco Marinkovic, de que a intenção do referendo para votar o estatuto pela autonomia não é a independência de Santa Cruz em relação à Bolívia, para o professor de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Francisco Carlos Teixeira, a escolha do último domingo (4) é o primeiro passo para a separação.“O que se pretende aprovar nesse estatuto, pode ser dito o que for, é literalmente uma separação”, afirmou, em entrevista à Agência Brasil. O professor lembra que, entre os pontos previstos no estatuto pela autonomia de Santa Cruz, está a criação de uma nacionalidade cruzenha e a determinação de que telecomunicações, políticas de terras, de mineração, industrial e a arrecadação de impostos passem para o controle do governo local.“Mais do que isso. Foi estabelecido também que todos aqueles índios de origem Aymara e Quechuas, que são maioria no país, não têm direitos cívicos [pelo menos no departamento de Santa Cruz]", complementou.Teixeira explicou que a criação de uma nacionalidade é o primeiro passo para pedir o reconhecimento da independência na Organização das Nações Unidas (ONU). “O resultado [da aprovação do estatuto no referendo] vai fazer com que os favoravéis à autonimia acelerem o processo de transformação da sua luta em uma luta muito mais agressiva”, opinou.O professor acredita que a independência de Santa Cruz poderia abrir precedente para outros processos separatistas de grupos étnicos na América do Sul e levaria à criação de um estado frágil e vulnerável ao narcotráfico, uma vez que a maior parte das riquezas da Bolívia está no departamento (estado) cruzenho. Além disso, segundo o professor, dependendo de como o governo de Evo Morales reagir ao resultado, pode-se gerar uma guerra civil “no coração do continente”.No entanto, o especialista lembrou que o governo de Morales também é responsável pelo movimento. “Nos dois primeiros anos do governo, Evo não quis negociar, com a vantagem que ele tinha naquele momento – a de uma eleição muito popular. De fato, o regime republicano boliviano é muito arcaico, o país é muito centralizado, precisava sem dúvida estabelecer a federação”, afirmou.