Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A desvalorizaçãodo dólar pode comprometer políticas de combate àfome no mundo. A avaliação é do diretor para América Latina e Caribe da Organização das Nações Unidas paraAlimentação e Agricultura (FAO), José Graziano, para quem essa queda gerou uma fuga, especialmente por parte dos fundos de pensão americanos,para commodities (bens primários com cotação internacional) agrícolas – soja, trigo, arroz. O resultado foi que nos últimos nove meses os preços mundiais dosalimentos subiram 45%.“Hoje temos um ataqueespeculativo às commodities agrícolas e não ésó com produção que se vai resolver. A soluçãoda crise do dólar é parte da solução para a fome”, afirmou oex-ministro extraordinário de Segurança Alimentar eCombate à Fome, em entrevista coletiva sobre a 30ª ConferênciaRegional da FAO, que reunirá em Brasília representantes de cerca de 30 países da América Latina e Caribe entre ospróximos dias 14 e 18.Segundo Graziano, a FAOpedirá a ajuda de organismos financeiros multilaterais, comoBanco Mundial e Fundo Monetário Internacional, para inibir oprocesso especulativo com alimentos. “Estamos vendo se logramosalguma ação imediata e concreta”, informou.Também presente na entrevista coletiva, o secretário de RelaçõesInternacionais do Ministério da Agricultura, Célio Porto, afirmou que a valorizaçãodas commodities também resulta da escassez de alimentos, provocada por uma soma de fatores: o uso do milho para produçãode etanol nos Estados Unidos, o uso de oleoginosas para produçãode biodiesel na Europa, o aumento da demanda na Ásia e algumassecas regionalizadas devido a mudanças no clima. “Não hácapacidade de reação da oferta no curto prazo, ademanda é que tem de se ajustar. Infelizmente está seajustando não pela redução do consumo dos ricose, sim, pela escassez de alimento para os pobres”, ponderou. O aumento do consumo de alimentos pelas populações maispobres é justamente uma das causas da escassez, na avaliação de José Graziano: “Essamelhoria da alimentação dos pobres é muito bem-vinda, mas tem um custo para o qual os países não estavampreparados.” Ele lembrou que 19 paísesda América Latina e do Caribe desenvolvem programas detransferência de renda semelhantes ao Bolsa-Família brasileiro.