Para FAO, garantia à alimentação deve ser direito e não ato de caridade

10/04/2008 - 16h28

Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Apesar daredução de 12% no número de pessoas desnutridasentre o início dos anos 90 e o período de 2002 a2004, mais de 52 milhões de habitantes da AméricaLatina e do Caribe têm desnutrição crônicaou padecem de fome. Os dados, divulgados hoje (10) pelo representanteda Organização das Nações Unidas para aAlimentação e a Agricultura (FAO), José Tubino,revelam, segundo ele, a necessidade de se discutir o problema sob umaótica diferente: "Deve-se deixar de entender o acesso à alimentação comoum ato de caridade e começar a considerá-lo umdireito." Ele completou: "Garantir que todos os seres humanos disponham de umaquantidade adequada e regular de alimentos é nada mais que umaobrigação moral. É um direito intrínsecoà democracia e ao desenvolvimento e não umaconcessão ou um ato episódico de filantropia.”

Aoparticipar da abertura da Conferência Especial pela SoberaniaAlimentar, pelos Direitos e pela Vida, Tubino reforçou que a redução no número de pessoas subnutridas na região é“insuficiente e muito desigual”. Américado Sul e Caribe, de fato, acrescentou, apresentam um desempenho melhor, o que jánão acontece na América Central, onde percentual de subnutridos passou de 17% para 19% dapopulação.

“Estamosperdendo a guerra contra a fome na América Central. O númerode pessoas que não se alimentam corretamente subiu de 5milhões para 7,5 milhões”, alertou.

Tubinodisse acreditar que a fome revela ainda a “desigualdade étnica”que existe na região, já que as comunidades maisatingidas pelo pouco acesso à alimentação,segundo a FAO, são as comunidades indígenas: “Apersistência da fome no século 21 confronta a razão,questiona a civilização e as conquistas dodesenvolvimento. Mas, sobretudo, é uma violênciainadmissível em uma região onde não faltam comidaou meios para ampliar a oferta de alimentos.”

O continente americano, destacou, conta com um excedente na ofertade alimentos superior a 30% do total produzido, mais as importações:“Não deveria falta comida." Ele disse considerar "incompreensível" que as pessoas mais afetadas pela fome sejam as que vivem nocampo, onde se produz a maior parte dos alimentos.

Segundo dados daFAO, 30% dos camponeses da América Latina sãoconsiderados indigentes. E mais da metade dos 71 milhões de indigentes da região vivem emáreas rurais. Para Tubino, “odinamismo do setor agrícola ajuda a explicar o crescimento econômico da região,mas não beneficiou os pobres do campo – e isso não mudaráenquanto os governos não tiverem políticas públicasespecíficas destinadas às populaçõesrurais mais vulneráveis, que promovam a segurançaalimentar, que favoreçam a produção daagricultura familiar, que melhorem o acesso dos camponeses aosrecursos naturais e as condições laborais dostrabalhadores temporários.”