Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O relatórioViolência Contra os Povos Indígenas no Brasil 2006/2007,divulgado hoje (10) pelo Conselho Indigenista Missionário(CIMI), revela que a maioria dos 149 assassinatos registrados nesseperíodo entre indígenas, com autoria definida, foicometida por pessoas das próprias comunidades, em situaçõesde brigas, muitas delas familiares. Mais da metade do total dos crimes ocorreu em Mato Grosso do Sul.Para a antropóloga Lúcia Rangel,coordenadora do levantamento, o aumento da violência entre ospróprios índios é reflexo das condiçõesdegradantes a que eles estão submetidos, principalmente emMato Grosso do Sul, por estarem “confinados” em pequenas reservasonde há superpopulação e condiçõesprecárias de saúde e subsistência.A antropóloga explicou que, apesar dasvárias comunidades de uma mesma reserva - como é o caso deDourados, onde estão os Guarani-Kaiwoá - terem a mesmacultura e falarem a mesma língua, elas estãoorganizados em unidades autônomas (chamadas tekohá)baseadas em relações familiares e com chefias políticase religiosas independentes.“Quando várias dessas unidades sãocolocadas em uma área sem espaço, começam acompetir entre si, o conflito vai aumentando e entra-se num ciclo deviolência interna que não se resolverá, a nãoser que cada uma das unidades retome a terra que corresponde ao seutekohá.”, afirmou Lúcia Rangel, referindo-se àreivindicação dos 45 mil índios da etniaGuarani-Kiaowá por 100 áreas de terra no estado. Ao comentar os suicídios registrados entrejovens indígenas no país (33 em 2006 e 28 em 2007), aantropóloga disse que trata-se de um fenômeno de difícilcompreensão. “Parece um grito de alerta da juventude de queas coisas não vão bem, de que a vida estáviolenta, de que são ameaçados, e eles buscam no mundodos espíritos a segurança e a paz que nãoencontram aqui.”