Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Estudo elaboradopelos economistas Bolívar Pego e Carlos Álvares daSilva Campos Neto, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada(Ipea) analisa que os investimentos do Programa de Aceleraçãodo Crescimento (PAC) não afastam o risco de insuficiênciada oferta de energia no país até 2013, mesmo que asobras não sofram atrasos. O trabalho foi publicado no sitedo Ipea no último dia 28 de fevereiro.
Em entrevista à AgênciaBrasil, Bolívar Pego, pesquisador da Coordenaçãode Finanças Públicas do Ipea, ressaltou que o foco doestudo é o PAC. Os pesquisadores do Ipea tomaram como base asobras do setor elétrico em execução no PAC, queprevêem investimentos de R$ 78,4 bilhões no período2007/2010 e aumento da capacidade instalada até 2010 de 12.386megawatts (MW) de energia. Com base nesses dados, eles traçaramdois cenários: um do PAC e outro com base em informaçõesda Empresa de Pesquisa Energética (EPE).“Vimos que, com as obras que estão no PACem execução - e não tem nenhuma obra grandeporque as usinas do Rio Madeira estão no PAC como planejadas -vendo a oferta de energia que tem nessas obras, comparando isso àperspectiva de crescimento da demanda no período de 2007 a2010, a gente percebe nos dois cenários que há umadiferença a mais no que se refere à demanda, tendo emvista o aumento da oferta de energia elétrica”, explicouPêgo.
O estudo traça um paraleloentre o consumo de energia e o Produto Interno Bruto (PIB), que éa soma das riquezas produzidas no país e mostra que, na medidaem que o PIB cresce, cresce também a demanda. Isso émedido no trabalho pela elasticidade-renda da demanda, que é ograu de sensibilidade que se tem a partir do momento em que se mexeem uma determinada variável. No caso, essa variável éo PIB.
Bolívar Pêgo informouque elasticidade significa que a cada crescimento percentual do PIB,o crescimento da demanda de energia elétrica vai aumentar1,3%. “Significa que ela [demanda] cresce 30% a mais em cadaponto percentual”. Tomando por base as informações daEPE, o crescimento da demanda seria de 1,23%.
Ele salientou, por outro lado, que aelasticidade tem se reduzido aos poucos. “Cada vez ela estámenor. Mas como nós analisamos o período de quatroanos, dá uma margem para mais dúvida com relaçãoa essas variáveis que precisam ser analisadas”. Pêgoadmitiu que existiria então risco de novo desabastecimento deenergia. “Se não chover adequadamente, os reservatóriosficarem baixos, se o PIB crescer muito”, avaliou.
Segundo o pesquisador do IPEA, se oPIB crescer acima de 5% nos próximos três anos e aelasticidade não for reduzindo ao longo do tempo e se mantiverem torno de 1,2% a 1,3%, “há possibilidade de que adiferença entre oferta e demanda seja significativa, mesmoconsiderando uma faixa de reserva na capacidade instalada hoje, entreo que é ofertado e o que é demandado, entre 4 mil a 7mil MW. É muito pouco para um país como o Brasil”.
Para minimizar o risco de um novoapagão, o economista sugeriu, em primeiro lugar, “torcerpara que chova bastante todo ano”, tendo em vista que cerca de 75%da energia gerada no Brasil provêm de fontes hídricas.Em seguida, é preciso torcer para que a elasticidade dademanda com relação ao PIB não seja muito maiordo que um. “Ela vai continuar sendo um pouco maior do que um, masque seja o mais próximo de um possível”.
A terceira recomendaçãoé que o PIB não deve crescer muito. Porque se o PIBcrescer em torno de 6% a 7% é muito bom para o país,mas representará uma necessidade maior de energia, destacou.“E aí vai examinar a elasticidade. Se ela ficar muito alta,significa que a cada ponto percentual do PIB nós vamosprecisar de mais energia”. Nesse contexto, Bolívar Pêgoafirmou que as obras que estão em execução noPAC podem não ser suficientes para suprir a demanda no períodopesquisado.
O economista informou que o IPEAestá procedendo, no momento, à avaliaçãodo PAC em 2007, comparando com as previsões feitasanteriormente. O trabalho deverá estar concluído emabril próximo. “Aí a gente vai reconsiderar quantofoi o crescimento real do PIB, quanto foi a elasticidade real de 2007e fazer uma nova simulação para o horizonte até2010. É possível que haja algumas mudanças”,admitiu.
No curto prazo, o estudo apontaa necessidade de que sejam tomadas algumas medidas, entre asquais a contratação de dois ou três reconversores de gás natural liquefeito (GNL), o aumento dacapacidade das caldeiras das usinas térmicas movidas a bagaçode cana, além do cumprimento do cronograma de entrada emfuncionamento das usinas térmicas movidas a óleocombustível, resultantes do último leilão deenergia realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica(Aneel). Tudo isso, porém, levando em conta as chuvas. “Caso contrário, ainsuficiência de oferta já deverá ser observadaem 2009”, indica o estudo.No médio e longo prazos, Pêgoafiançou que não há como fugir dos grandesprojetos de energia elétrica, como a construçãodas usinas de Jirau e Santo Antonio, no rio Madeira (RO) “que, deuma forma muito otimista não entrarão em operaçãoantes de 2013 e estão fora do horizonte da nossa análiseque é 2007/2010”, frisou.