Professor argentino diz que país vive "crise de crescimento"

27/02/2008 - 7h09

Mylena Fiori
Enviada especial
Buenos Aires (Argentina) - Para continuar crescendo sem risco de um colapso energético, a Argentina precisa aumentar entre 30% e 40% sua capacidade de geração, transmissão e distribuição de energia. A estimativa é de Alberto Barbieri, decano da faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Buenos Aires e coordenador da empresa de consultoria e transferência de tecnologia energética Ubatec. “A Argentina vive uma crise de crescimento”, resume.  Desde 2003, a Argentina vem crescendo a taxas superiores a 8% ao ano.  Tal ritmo, no entanto, não foi acompanhado dos necessários investimentos em infra-estrutura, alerta o economista. “O crescimento da economia tem um efeito cascata em todos os níveis da população, quando há crescimento, há maior poder aquisitivo e há mais consumo em todas as áreas”, pondera.  “Para seguir com este crescimento sustentável é fundamental que se faça os investimentos planejados em matéria energética”, defende. Nesse sentido, Barbieri considera essenciais o acordo de troca de energia e as iniciativas conjuntas acertadas entre Brasil e Argentina durante a visita de Estado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ao país no último fim de semana, não apenas para o futuro argentino, mas de toda a região. “A relação estratégica entre Brasil e Argentina é fundamental para o desenvolvimento da região e para o desenvolvimento dos dois países”, ressalta.Os dois países fixaram um calendário para tirar do papel o Complexo Hidroelétrico Binacional de Garabi, no Rio Uruguai, cujo protocolo de intenções foi firmado em 2005.  Também decidiram criar uma empresa binacional para pesquisa e exploração conjunta de energia nuclear. Como medida emergencial, o Brasil prometeu fornecer 200 megawatts/ hora de energia elétrica no inverno argentino, quando há picos de consumo devido ao uso de calefação nos domicílios – a Argentina devolverá também em energia, quando puder.

No ano passado, o Brasil cedeu à Argentina um milhão dos 30 milhões de metros cúbicos de gás/dia previstos no contrato que tem com a Bolívia, e forneceu energia elétrica extra. Isso não impediu que o governo argentino promovesse cortes no abastecimento de gás das indústrias, a fim de evitar cortes residenciais, e suspendesse o fornecimento do combustível ao Chile.“A Argentina está passando por uma situação de restrição energética bastante importante. No ano passado, a economia cresceu forte, mas gerou muitas perdas econômicas a setores de pequenas e médias empresas”, ressalta o economista Dante Sica, ex-secretário de Indústria da Argentina e diretor da  Consultoria Econômica Abeceb.com.  “Creio que o acordo com o Brasil é importante pois pode garantir o funcionamento normal do setor industrial e a provisão fluída de energia para consumo domiciliar”, afirma.Barbieri pondera que a troca de energia proposta pelo Brasil não resolve o problema, mas serve como paliativo enquanto não se concretizam projetos já em andamento na Argentina, como o gasoduto em parceria com a Bolívia, previsto para ser concluído até 2010. O país também já tem iniciativas conjuntas com o Paraguai na geração de energia hidroelétrica. “Na área energética, é fundamental a pesquisa e complementação com outros países”, acrescenta.