Liberação de fazendas não é suficiente para o setor, afirma dirigente da CNA

27/02/2008 - 18h31

Sabrina Craide
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A liberação de 106 fazendas brasileiras para exportação de carne aos países da União Européia não significa benefícios para os produtores brasileiros, na avaliação do presidente do Fórum Nacional de Pecuária de Corte da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Antenor Nogueira. Para ele, ainda há um “embargo branco” no setor.“É uma falta de respeito com o produtor rural brasileiro. Hoje existem no banco de dados do Sisbov [Serviço Brasileiro de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos] mais de 8,7 mil fazendas só na zona habilitada. Dessas, tirar só 106, é ridículo”, disse Nogueira. Segundo ele, a carne que poderá ser comercializada com o bloco “não é suficiente para exportar nem um container”.O representante da CNA também critica a falta de regras por parte da União Européia para aceitar a carne vinda do Brasil. “Estamos cobrando do Ministério da Agricultura que exija da União Européia regras claras sobre esse assunto”, afirmou.O diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Antônio Jorge Carmardelli, disse que os exportadores brasileiros deverão avaliar se ainda vale a pena comercializar carne para a União Européia, já que o preço dos animais das propriedades que atenderam às premissas do bloco deverá ser valorizado.“Isso é uma questão de mercado, funciona a lei de oferta e procura. Se for conveniente, os frigoríficos irão adquirir para cumprir seus contratos e acordos”, explica. Camardelli lembra que, além dos países que formam a União Européia, o Brasil exporta carne para mais 150 países.Segundo o diretor da Abiec, a movimentação mensal do setor corresponde a US$ 90 milhões. Mas, para ele, as perdas do setor com o embargo foram mais sentidas pelos frigoríficos. “Os frigoríficos tinham programações anuais, nós procuramos fugir um pouco de vendas pequenas e com isso houve uma quebra da seqüência”, afirma.Ele lembra que na Europa os prejuízos também foram sentidos. Segundo Camardelli, o preço da carne teve aumento de 20% nos países europeus. “Há prejuízos para todos os lados, resta tirar a lição e trabalhar para frente”, acredita.O diretor da Abiec espera que a Secretaria de Defesa Agropecuária tenha o mesmo sucesso ao discutir junto à União Européia como será o cronograma de inclusão de novas propriedades e de que forma isso será feito. Para ele, o Brasil tem estabilidade no cenário da exportação de carnes, mas precisa reorganizar o processo e reforçar sua condição de status sanitário.O Ministério das Relações Exteriores ainda não se manifestou oficialmente sobre a liberação da exportação da carne brasileira. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, a medida foi considerada positiva pelo governo brasileiro, pois indica que a União Européia aceitou as informações repassadas pelo Brasil e não pretende manter o mercado fechado. O Itamaraty ainda não descarta a possibilidade de levar o assunto para discussão na Organização Mundial do Comércio (OMC).