Especialistas sugerem planejamento regional para evitar desabastecimento de energia

27/02/2008 - 7h23

Mylena Fiori
Enviada especial
Buenos Aires (Argentina) - O planejamento em nível regional, com ênfase na complementação energética, é o caminho apontado por especialistas para evitar crises de desabastecimento nos países sul-americanos.  A Argentina corre risco iminente de desabastecimento, e o Chile depende do gás importado da Argentina. O Brasil, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), pode ter déficit de energia em dois anos. E todos seguem crescendo. “O problema existe e é real, é um problema de crescimento e vamos ter necessidade de consumo maior do que temos. Temos que sentar todos na mesma mesa e tratar de buscar uma solução, ver como não esfriar as economias por falta de energia para avançar”, acredita Alberto Barbieri, decano da faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Buenos Aires e coordenador da empresa de consultoria e transferência de tecnologia energética Ubatec. Tema prioritário, na sua avaliação, é ver como ajudar a Bolívia a explorar toda a sua potencialidade energética. Este ano, o país já avisou que não poderá cumprir o contrato de fornecimento que tem com a Argentina. Hoje, a Bolívia produz entre 35 e 40 milhões de metros cúbicos de gás por dia e apenas o contrato com o Brasil prevê fornecimento de 30 milhões. Cerca de 6 milhões são destinados a consumo interno.“Nós precisamos do gás da Bolívia e o Brasil também. Nós temos um convênio pelo qual exportamos gás para o Chile e é como um efeito cascata. É preciso ter inteligência para ver como nos ajudaremos nos momentos chave”, destaca.

Para o economista Dante Sica, ex-secretário de Indústria da Argentina e diretor da Consultoria Econômica Abeceb.com, a Bolívia afastou investimentos estrangeiros e agora Brasil e Argentina devem ajudar o país a recuperar credibilidade. “Hoje, a Bolívia não é um fornecedor confiável e creio que terá que desenvolver e trabalhar muito em conjunto com os países  da região para poder alcançar esta categoria”, afirma. “Creio que nisto Argentina e Brasil terão que trabalhar de mãos dadas, e em especial o Brasil, para poder fazer os investimentos necessários na Bolívia a fim de garantir o fornecimento de gás para a região”, acrescenta Sica.

Na sua avaliação, a crise de abastecimento reflete a necessidade de um acordo ou tratado energético em nível regional. “A energia, pela importância que tem, deve deixar de ser vista como um problema nacional e tem que ser vista como um problema regional. A primeira questão é ajudar a democracia boliviana a consolidar-se a fim de que possa receber investimentos dos países vizinhos e garantir o normal fornecimento de energia”, diz o ex-ministro argentino.

Mas a redução dos investimentos na Bolívia não é o único empecilho para um tratado regional, alerta o economista. “É preciso ajudar a superar os conflitos territoriais entre Bolívia, Peru e Chile. Neste sentido, creio que o Brasil, como líder regional, tem um papel muito mais forte para tratar de ajudar estes países a solucionar suas diferenças”, defende.

Para Alberto Barbieri, a parceria com os países vizinhos também dá credibilidade à região junto aos investidores estrangeiros. “É importante mostrar ao mundo que estamos trabalhando em temas estratégicos de forma conjunta”, afirma. “Regionalmente temos que seguir juntos para que estrategicamente nos posicionemos no mundo e fortaleçamos o Mercosul”.