Marco Antônio Soalheiro*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Asmudanças climáticas poderão, já naspróximas duas décadas, ter efeitos negativos profundossobre a agricultura e o sistema de alimentação, comconsequências graves especialmente para os países maispobres. É o que aponta artigo publicado na edição da Revista Science do dia 1º deste mês. O autor principal do estudo detalhado é David Lobell,do Instituto Woods para o Meio Ambiente, da Universidade de Stanford.No boletim eletrônico da Science , assinam o texto Molly Brown,da Agência Espacial Norte Americana (Nasa), e Christopher Funk,da Universidade da Califórnia. “O aumento dastemperaturas e o declínio das precipitações nasregiões semi-áridas vão reduzir os rendimentos domilho, trigo, arroz e outras culturas primárias. As mudançaspodem ter impacto substancial na segurança alimentar global”,destaca a publicação. Eventos naturais como oaquecimento do Oceano Índico e o agravamento do fenômenoEl Niño deverão, segundo os autores do estudo, reduziras temporadas de chuva nas Américas, África e Ásia,onde comunidades já têm sofrido, desde 1990, com oaumento dos preços das commodities (produtos primários negociados em bolsas de mercadorias) e o declínio da área per capita cultivada . Os cientistas garantemjá ser possível projetar uma situação deinsegurança alimentar consolidada. “Muitos fazendeirosconsomem seus próprios produtos e vendem nos mercados locais.Expostos às variações climáticas,produzem menos, a renda diminui e aumentam os custos de manutençãodo consumo básico. A fome em larga escala pode acontecer mesmose houver comida nos mercados, importada de outros lugares”,explicam no estudo. Como milhões depessoas sobrevivem com o que produzem, o estudo sustenta que“provavelmente haverá mais fome” se as mudançasclimáticas reduzirem a produção e a populaçãoaumentar. Países de pequeno orçamento que tiveram areceita nacional afetada pela seca já enfrentam maisdificuldade de comprar grãos no mercado internacional. Browm eFunk citam o exemplo da Tanzânia, onde o acesso àcomida para os pobres foi reduzido em função derecentes aumentos do preço de grãos. E, ressalta apublicação, o país da África Oriental ainda teriaque “competir pelo milho” com a produção de etanol e com criadores de suínos nos Estados Unidos. Combinados com aprodução reduzida, o aumento dos preços doóleo, a globalização do mercado de grãos,o aumento da demanda por biocombustíveis e o aumento doconsumo per capita na Índia e na China foram citados comofatores agravantes. “Estas mudanças podem elevar o custodos alimentos em 40% ou mais em muitas áreas de insegurançaalimentar”.