Aumento da temperatura ameaça café arábica em São Paulo e Minas Gerais, diz especialista

10/02/2008 - 17h09

Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O café arábica,cultivado comumente em terrenos mais altos em São Paulo e nosul de Minas Gerais, com mais qualidade e melhor valor de mercado, éuma das culturas nacionais mais sujeitas aos impactos do aquecimentoglobal. A previsão foi feita pelo climatologista do InstitutoNacional de Pesquisas (Inpe) Carlos Nobre, em entrevista àAgência Brasil. “Com 3 a 4 graus deaumento da temperatura média, o café arábicapraticamente desparece de São Paulo e do sul de Minas. Sóalgumas regiões serranas muito altas teriam clima adequado aocultivo e a adaptação genética serámuito difícil. O café teria que migrar para o sul doBrasil, da Argentina e do Uruguai”, explicou o especialista.O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Fábio Marinho confirmou que estudos sobre o café estão em fase final e a perspectiva é de "redução drástica" da produção em São Paulo e em Minas Gerais. Dadosdo Conselho Nacional do Café (CNC) indicam que o país devecolher de 18 a 20 milhões de sacas de café arábicana safra 2007/2008, o que indica um redução entre 30% a50% em relação à safra a anterior, de 32 milhõesde sacas, influenciada por efeitos um período de secaprolongada, aumento dos custos de produção e queda do dólar. Oestudo foi realizado com 20 cooperativas de Minas Gerais e SãoPaulo, que reúnem 65 mil produtores e cultivam em torno de 40%da produção nacional. Se for considerada umaagricultura estagnada do ponto de vista tecnológico, Nobre vislumbra que o milho, a soja, o feijão e o arroz tambémperderiam em produtividade com as temperaturas mais altas.Entretanto, ele ressalvou que a Embrapa, a Universidade Federal de Viçosa(UFV) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) já sededicam a estudos no sentido de tornar as variedades agrícolasmais resistentes à temperatura e a períodos de seca.“Os grãos sãooriginários de temperaturas mais amenas, de latitudes médias. A pesquisa tem que avançar muito nessa direçãode buscar a melhor adaptação possível apara aagricultura do futuro”, disse Nobre.