Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Na avaliação da secretária-executiva da Jornada pelo Aborto Seguro e integrante da organização não-governamental (ONG) Católicas pelo Direito de Decidir, Dulce Xavier, a Campanha da Fraternidade 2008, lançada hoje (6) pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), deixa de lado questões e elementos importantes para a manutenção da vida.“A campanha da fraternidade sempre foi importante para integrar as pessoas da igreja com as causas sociais, mas não considera o uso do preservativo diante de uma epidemia de aids. Como é que se fala em defesa da vida e a igreja continua sendo contrária ao uso do preservativo, quando ele pode salvar vidas?”, questionou a ativista. A Igreja Católica escolheu “Fraternidade e defesa da vida” como tema da campanha deste ano. O lema é “Escolhe, pois, a vida”.A integrante da ONG Católicas pelo Direito de Decidir citou ainda a posição contrária a pesquisas científicas com células-tronco e à descriminalização do aborto. “As pesquisas com células-tronco podem salvar vidas ou melhorar perspectivas de vida de pessoas com problemas sérios de saúde. E a prática clandestina do aborto acaba levando muitas mulheres a morte”, afirmou.De acordo com Dulce, mesmo lançando um movimento pela vida, a Igreja Católica não abre mão de proibir e colocar obstáculos para a solução de questões importantes e que também defendem a vida. “Não basta ter a vida biológica, é preciso que as pessoas tenham liberdade de se relacionar, de pensar, manifestar outras religiões e não serem discriminadas por isso.”Para ela, mesmo que demore, a Igreja Católica será obrigada a mudar sua posição. “Acreditamos que os setores conservadores da Igreja Católica estão se manifestando de forma radical e fundamentalista, porque não aceitam se abrir para o diálogo e aceitar outros pensamentos. Mas, na prática, os próprios católicos estão vivenciando uma coisa diferente do que a hierarquia manda.”Segundo ela, pesquisas realizadas entre os próprios católicos mostram que 97% deles são favoráveis ao uso dos preservativos, e 80% são a favor do planejamento familiar e do atendimento legal do aborto. “Ou seja, a hierarquia fala pra quem? Essa postura radical e fundamental que não admite mudança não tem base nem sustentação na própria base. É importante ressaltar que há outras vozes dentro da Igreja Católica além desse setor radical e fundamentalista”, finalizou Dulce.A ONG Católicas pelo Direito de Decidir atua desde 1993. O objetivo da instituição é mostrar que, dentro da Igreja Católica, existem pessoas que discordam da postura adotada com relação a temas ligados à sexualidade e à reprodução.