Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Depois de apontar umdesmatamento na região amazônica nos meses de novembro edezembro de 1.922 quilômetros quadrados de floresta, oInstituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) teve os dadosquestionados pelo governo de Mato Grosso. Segundo o Inpe, o estado foi responsável por 53,7% do total desmatado entre agosto edezembro de 2007. O governador Blairo Maggi chegou a pedirpublicamente uma revisão dos números, mas, de acordo com oclimatologista do Inpe Carlos Nobre, não hápossibilidade de mudança. “Não éverídico que o Inpe está refazendo os cálculos eque os números vão mudar. Eles foram muito checadosantes de sua divulgação,” afirmou Nobre, em entrevistaà Agência Brasil. “Estamos colocando os númerosnum contexto mais amplo em relação a anos anteriores,mas isso não é modificação”,acrescentou.Nobre ressaltou que oSistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real(Deter) tem méritos e limitações. Sua funçãonão seria calcular as áreas desmatadas com precisão,mas sim indicar locais com sinais de grandes derrubadas de floresta:“O sistema permite passar informações detectadas acada 15 dias para o Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dosRecursos Naturais Renováveis] e órgãosestaduais do meio ambiente intensificarem a fiscalizaçãoin loco. A ferramenta dá uma idéia aproximadadas tendências e, dentro do que ela foi projetada, os númerossão bastante confiáveis.O alerta é real”. Pequenos desmatamentosnão são identificados pelo Deter. O mínimo éuma devastação equivalente a 10 campos de futebol, disse Nobre. O Deter também não consegue apontar se o estrago na floresta se deu a partir do uso de tratores, motosserras, machados ou incêndios. “O sistema nãoenxerga o trator abrindo ou o gado lá embaixo, mas enxerga afisionomia de uma região que antes tinha cobertura vegetaldensa e que, numa outra imagem, essa cobertura não estámais lá”. Carlos Nobre admitiu que um erro técnico no sistema de monitoramento levouà divulgação de dados imprecisos sobre odesmatamento na Amazônia nos meses de junho, julho e agosto de2007, mas garantiu que a falha foi corrigida e não se repetiuem relação aos últimos meses do ano. Ele informou que oInpe pretende estabelecer discussões técnicas com oIbama e órgãos de estados da Amazônia no sentidode interpretarem corretamente as modificações de usoda terra que estão ocorrendo. O sobrevôo realizado naúltima semana em Mato Grosso mostrou aos técnicos umadevastação com características pouco comuns atéagora. “Foi encontrado láum padrão de desmatamento com muitas árvores ainda depé, a maioria delas mortas, uma ou outra com vegetação,mas embaixo já semeado e com boi. Aquela área nãodesempenha mais o papel biológico de floresta, nãoarmazena carbono, não mantém biodiversidade. Épastagem com troncos mortos e calcinados em pé”, descreveuNobre. “É um novomodo em que a transformação da floresta em outro usonão acontece de uma vez só, depois que o trator passouderrubando tudo. Um processo mais gradual em que a floresta vaimorrendo aos poucos quando repetidamente se coloca fogo”, concluiu.