Beth Begonha
Repórter da Rádio Nacional da Amazônia
Brasília - Duascrianças da comunidade indígena de Matís morreram por causa de meningite. De acordo com o coordenador do Conselho Indígena do Vale do Javari (Civaja), Clóvis Marubo, que acompanhou as crianças ao hospital no final de 2007, acausa da morte já foi notificada à Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que ainda não repassou as informações à comunidade.“Essanotificação foi feita pelo médico do Hospital de Guarnição do Exércitode Tabatinga, que é referência. Para nós foi dito que a morte teria acontecido em função disso. Inclusiveo documento foi enviado à coordenadora técnica [da Funasa], por isso estoudivulgando. O documento está com a Funasa mas ela não repassa pra nós.Só que eu estava presente.”Clóvisreclama da falta de transparência na divulgação dos dados relativos àsaúde da população, tanto com relação ao diagnóstico de doenças quanto a causa da morte dessas pessoas. Entre os dias23 de dezembro de 2007 e 8 de janeiro deste ano, morreram nove pessoas,cinco das quais, crianças. “Oque nós do Civaja estamos divulgando é que morreram essas pessoas,agora, os dados sobre a causa da morte, a Funasa não repassa pra nós.Os índios se revoltam por isso: os índios estão doentes, mas nuncasabem, e as mortes também, nunca é explicado do que a pessoa morreu.Isso fica sob controle da Funasa e eles não informam pra gente, porqueeles não querem que a gente divulgue, que a gente informe nada: morreu,morreu e a gente tem que se conformar com isso.”Alémdo alto índice de contaminação pelos vírus do tipo B da hepatite, dosinúmeros casos de malária, e do aparecimento da meningite, o coordenador afirma ter um relatório da Funasa que apontacontaminação, pelo agente causador da tuberculose, da população que vivenas 24 aldeias localizadas no alto Rio Ituí. Três pessoas já teriammorrido em função da doença.“Jáfaleceram três pessoas, ao meu conhecimento, de tuberculose. E a partirdesse momento nós tivemos a preocupação de consultara Funasa. Elesdisseram que 80% das pessoas estão contaminadas.” Segundo ele,a contaminação já teria chegado a outra área da Terra Indígena, o altoRio Curuçá, disseminando a doença entre a população. Atuberculose e a meningite são doenças de alto poder infeccioso e defácil contágio. O hábito cultural dos índios de morar em malocasfacilita a contaminação, já que várias famílias dividem a mesma casa eambos os agentes causadores são transmitidos por via aérea, por meio darespiração.De acordo com o representante do Civaja, hámuita preocupação entre os moradores da região porque apesar de jápossuir a informação das mortes causadas por essas doenças, a Funasanão tem plano de vacinação ou tratamento imediato daqueles queestão com tuberculose nas aldeias.ClóvisMarubo afirma ter tido muita dificuldade para conseguir ter acesso aosdocumentos com o resultado dos exames e ressalta que não há nenhumdoente em tratamento nas aldeias.“Esse pessoal que está com tuberculose não foi tratado. Esselevantamento foi feito no início de 2007 e somente agora os documentos foram entregues, em função de nós fazermos muitacobrança." "Somentetrês pessoas estão em tratamento, aqui em Atalaia do Norte, na Casa doÍndio. Mas isso porque passaram mal, foram trazidas pra cá. Aqui nacidade se fez o diagnóstico e essas estão sendo tratadas. Dos quefazem parte do relatório feito nas aldeias, nenhum está em tratamento”, concluiu o representante do Civaja.