Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A crise imobiliário-financeira que afeta a economia norte-americana desde o ano passado terá repercussões no Brasil. Em entrevista hoje (17) à Agência Brasil, o economista Reinaldo Gonçalves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse que existe o consenso de que a crise americana “afeta o Brasil e o mundo todo". "Só que afeta o Brasil mais do que o conjunto da economia mundial frente às vulnerabilidades do Brasil, que são muito grandes”, completou.Gonçalves afirmou que o Brasil é um país vulnerável porque não construiu, ao longo do tempo, os elementos necessários para protegê-lo de fatores desestabilizadores externos. “Além disso, o Brasil, nesse passado recente, em vez de melhorar suas condições internas, acabou se fragilizando em algumas áreas importantes e com isso ele fica em pior situação relativa que o mundo”, analisou.Segundo o economista, o risco de o país ser afetado pela crise dos Estados Unidos existe, apesar do crescimento do crédito registrado no Brasil no ano passado. Ele explicou que, como o crescimento brasileiro é impulsionado por crédito, essa expansão tem "fôlego curto", especialmente quando o país não tem condições de manter um crescimento sustentável. Reinaldo Gonçalves avaliou que o grande problema da crise do mercado imobiliário americano é que o crédito se expandiu de forma muito rápida, entre os anos de 2003/2004, com taxas de juros elevadas, e isso não se sustentou por muito tempo. “E começou a dar problemas na área financeira. No caso do Brasil, o problema financeiro ainda não está aparecendo de forma tão séria, embora já surjam problemas sociais de gente que se endividou - pensionistas, aposentados, trabalhadores, que estão com a corda no pescoço. O problema é que as condições de oferta não acompanharam. Daí a pressão inflacionária que a gente está tendo, que tem a ver com essa expansão de demanda sem a correspondente expansão da oferta”, explicou.Na avaliação do economista, o Brasil começa a entrar em uma fase de desaceleração. “No ano passado, o país teve um crescimento de 5,2%. Este ano, o consenso é de que vai ter um crescimento em torno de 4,5%. Então, o Brasil está muito desprotegido. Não é à toa que o risco-país, que tinha chegado a menos de 190 pontos em meados do ano passado, já está batendo 240 pontos”.Ele analisou que nos últimos cinco anos, a fase ascendente do ciclo mundial suavizou “os erros de política de estratégia econômica do governo Lula [o presidente, Luiz Inácio Lula da Silva]. Só que agora está a reversão do ciclo. E isso vai pegar o Brasil de calça curta. Aliás, já está pegando, porque já tem desaceleração do crescimento prevista para este ano”.Reinaldo Gonçalves estimou que, aliado à crise norte-americana, um conjunto de fatores externos contribui para que o Brasil seja afetado pela desaceleração da economia mundial. “Tem uma série de fatores que estão pressionando a economia mundial para baixo. Não é só o problema do mercado imobiliário norte-americano. Tem uma pressão inflacionária evidente na economia internacional, tem excesso de liquidez na economia mundial e falta de liquidez na economia americana, tem inflação na Europa.""Além disso, o governo chinês está tentando desacelerar porque os custos dessa expansão estão crescentes. Então, tem um conjunto de incertezas críticas relevantes no cenário internacional que farão de 2008 um ano menos favorável do que 2007”, completou.A crise imobiliária americana foi identificada, ainda em meados do ano passado, ao se constatar que mutuários estavam atrasando ou mesmo deixando de pagar a hipoteca da casa própria. O problema se agravou junto aos clientes que não tinham garantias firmes, como renda comprovada, ou que comprometiam grande parcela de sua renda no pagamento das prestações. Esse grupo de pessoas, consideradas propensas à inadimplência e que pagam juros mais altos, é chamado de subprime.Grande parte dos empréstimos efetuado nos Estados Unidos é de hipotecas de longo prazo. Entretanto, esse mercado foi acompanhado de um movimento de refinanciamento de imóveis, cujo crédito obtido era girado para pagamento de outros bens não-duráveis e até de dívidas, o que acabou atingindo outros setores. O preço dos imóveis nos Estados Unidos caiu, em função da excessiva oferta, houve desistência dos mutuários e a inadimplência atingiu números recordes, levando ao fechamento dos empréstimos nos Estados Unidos. Com a redução do consumo, a economia local foi afetada.