Ação com médicos dos EUA é "atitude de desespero", diz líder indígena do Amazonas

14/01/2008 - 21h56

Beth Begonha
Repórter da Rádio Nacional da Amazônia
Brasília - Segundo o ConselhoIndigenista do Vale do Javari (Civaja), 20 médicos dos EstadosUnidos aceitaram o convite feito pelo Civaja para prestar socorrohumanitário aos povos da Terra Indígena do Vale doJavari, no Amazonas. O líder indígena Beto Maruboinformou pelo telefone que o coordenador do Civaja ClóvisRufino Marubo pediu autorização à PolíciaFederal (PF) em Tabatinga para a entrada dos estrangeiros emterritório brasileiro, mas que a autorização foinegada, pois eles não possuíam o visto necessáriopara entrar e trabalhar no país, o que caracterizaria práticailegal da medicina. O grupo decidiu então que montaria umaestrutura de atendimento no lado peruano, na margem oposta de onde sesitua a cidade de Atalaia do Norte, última antes da entrada emterritório indígena. O Rio Javari delimita a fronteiraentre os dois países. Segundo Beto Marubo, essa é umamedida de desepero.O líder reconhece que a operaçãocom os norte-americanos é controversa. Já houvepolêmica envolvendo coleta de sangue de indígenasbrasileiros e venda de amostras pela internet por umlaboratório localizado nos Estados Unidos.Ele afirma desconhecero nome da organização à qual esses médicosseriam vinculados, bem como os procedimentos previstos para seremexecutados por eles, e reconhece: “Essa é uma atitude dedesespero, que ocorre em função de tudo que os nossosparentes vêm passando. Sabemos que essa situaçãoé dúbia, e, dentro dessa perspectiva, pode ser atéperigosa para os nossos povos. Nem todos apóiam, mas jáhá lideranças mais antigas nas aldeias que afirmam nãoacreditar mais no governo brasileiro e pedem que se levem essesmédicos até lá.”De acordo com Beto, hojeapenas um médico cuida da saúde indígena dosmais de 3 mil índios do Vale do Javari, há menos de 20 profissionais de saúde na área e nãohá um único barco da Funasa funcionando. “Essa éuma forma de chamar a atenção do Brasil para agravidade da nossa situação e para o desespero denossos povos.” A Funasa confirma que todos os seus barcos para o local se encontram em manutenção.Procurada pelareportagem, a Fundação Nacional do Índio (Funai)respondeu, por intermédio de sua assessoria, que o grupo deestrangeiros não tem autorização para entrar emterra indígena, e que só se pronunciaria sobre asituação posteriormente.O diretor de SaúdeIndígena da Funasa, Wanderlei Guenka, se disse preocupado como acesso desses médicos aos índios, e afirmou teracionado o coordenador Regional da Funasa do Estado do Amazonas,Narciso Barbosa, para que verifique a situação emAtalaia do Norte.Guenka afirmou que asituação de saúde dos povos que vivem no Vale doJavari é gravíssima, e que a Funasa, sozinha, nãoé capaz de realizar as medidas necessárias para oatendimento da população.