Sabrina Craide
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O tempomédio para que produtos importados utilizados em pesquisas chegue àsmãos dos cientistas brasileiros é de quatro a seismeses, segundo levantamento feito no ano passado pela Federação deSociedades de Biologia Experimental (Fesbe), em parceria com aSociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (Sbnec).
Apesquisa, feita com mais de 15 instituiçõescientíficas de vários estados, também detectouque a maior demanda da comunidade científica (70%) é por material perecível, como reagentes, anticorpos,proteínas, células e animais. Os outros 30% são equipamentos, como incubadoras.
De acordocom o neurocientista e presidente da Sbnec, Stevens Rehen, esse atraso prejudica a competitividadedo país no campo científico. Segundo ele,cientistas dos Estados Unidos e da Europa levam entre 24 e 48 horaspara conseguir o mesmo tipo de material.
“Alémde termos menos cientistas no Brasil, saímos com seis meses deatraso. Com isso, os cientistas brasileiros acabam tendo que gerartrabalhos de menor impacto porque as principais descobertas estãosendo feitas seis meses antes, pela simples razão de [o pesquisador] nãoconseguir o reagente para trabalhar”, afirma Rehen.
Acoordenadora de Credenciamento à Importação e Incentivo Fiscal do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científicoe Tecnológico (CNPq), Nívea Melo Wanzeller,discorda do levantamento das entidades. Segundo ela, produtos que jáestiverem disponíveis, como reagentes, podem ser importados no prazo de dez dias. “Muitas vezes, o que atrasa é odesconhecimento da equipe do pesquisador que está trabalhandopara importar para ele”, explica.
Noano passado, a Receita Federal publicou uma instruçãonormativa que simplifica o despacho de produtos importados destinados àpesquisa científica e tecnológica. A AgênciaNacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tambémestuda a elaboração de uma nova legislaçãopara importação ou exportação de materialpara pesquisa em saúde. A proposta foi submetida aconsulta pública e as sugestões estão sendoanalisadas por um grupo de pesquisadores e profissionais da agência.
Emnovembro, o governo federal lançou o Plano de Açãode Ciência, Tecnologia e Inovação para oDesenvolvimento Nacional e anunciou um investimento de R$ 41 bilhõesem pesquisas e capacitação científica até2010. Uma das promessas foi agilizar e simplificar oprocesso de importação de material para pesquisa, com acriação de guias específicas para essesprodutos.
SegundoRehen, essas iniciativas são “extremamente válidas”,mas são necessárias ações coordenadas em todo ogoverno para resolver o problema da demora na importaçãode material científico.
“Essas ações mostramclaramente a sensibilidade do governo federal para tentar resolver oproblema. Só que a percepção de parte dacomunidade científica é que se não forem açõescoordenadas, não vamos conseguir chegar a lugar nenhum”,afirma.
ParaWanzeller, tanto a iniciativa da Anvisa quanto a da Receita Federalirão facilitar a vida dos cientistas brasileiros. “Asmercadorias vão chegar bem mais rápido aos laboratóriosdos pesquisadores, o que vai facilitar todo o trabalho da comunidadecientífica”.