Terceira pista em Guarulhos não é solução, afirma especialista

19/11/2007 - 19h27

Sabrina Craide*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Seo projeto de construção de uma terceira pista no Aeroporto Internacional de Guarulhos nãofor modificado, a obra corre o risco de se tornar inútil. Aopinião é do engenheiro Corrado Balduccini, consultorde projetos de aeroportos e responsável por um estudo da área feito a pedido dos moradoresda região. “A terceira pista, até o momento, nãoresolveria o problema”, diz.

Segundoele, os problemas de tráfego aéreo de Guarulhospoderiam ser solucionados com uma nova estratégia deutilização das duas pistas já existentes,possibilitando que elas sejam usadas ao mesmo tempo, o que não é feito atualmente.

Eleexplica que, como está agora, os pilotos que decolam de umadas duas pistas têm que virar para o lado direito. Se forconstruída uma terceira pista, paralela a estas, quando umaaeronave sair da pista, também deverá virar a direita.“Então a trajetória desta terceira pista cruzaria coma trajetória de qualquer avião que estivesse saindo deuma das duas pistas”, afirma Balduccini.

Oengenheiro também se preocupa com os custos sociais daconstrução de uma terceira pista em Guarulhos. “Aomeu ver, tem um custo social muito alto. Vivem lá em Guarulhoscerca de 25 mil pessoas a serem desalojadas. Além do custo deconstrução da pista”, analisa.

Esseponto de vista foi apresentado ao governo federal em uma reuniãorealizada em outubro, no Ministério da Defesa. “Eles [ogoverno] disseram que vão autorizar um estudo paraverificar as duas alternativas [a construção de uma terceira pista ou a utilização simultânea das duas pistas já existentes], em termos de custo benefício”,diz o engenheiro.

Ocoordenador do Movimento Contra a Terceira Pista, Elton Soares deOliveira, também acha que a solução para osproblemas de Guarulhos não está na construçãode uma terceira pista, e sim de um terceiro terminal dentro da baseaérea de Cumbica. Segundo ele, essa alternativa aumentaria em230 mil as operações anuais do aeroporto.

Oliveiradiz também que a construção de uma terceirapista agravaria a situação de Guarulhos por causa docruzamento das aeronaves no ar, que teriam que ser todas para o ladodireito. “Guarulhos não tem possibilidade de ter arremessade vôo na decolagem para a esquerda, por causa dos morros, quetêm quase três mil pés”, explica, referindo-se àSerra da Cantareira, ao lado do aeroporto.

Ele contaque a apresentação da alternativa de construir umterceiro terminal de passageiros surpreendeu o governo. “Elesforam pegos de surpresa. Nem a Infraero, nem o Decea [Departamentode Controle do Espaço Aéreo], nem o Conac [ConselhoNacional de Aviação Civil] e nem o próprioministro [da Defesa, Nelson Jobim] conheciam a proposta. Elesficaram de estudar e fazer a contratação de técnicospara apresentar um estudo científico mais aprofundado”,afirma. Opresidente da Infraero, Sérgio Gaudenzi, afirmou hoje (19)que, até o momento, a idéia do governo éconstruir uma terceira pista em Guarulhos, para aumentar o númerode operações no aeroporto. Ele disse que já háanálises preliminares sobre o assunto. “Guarulhos é omaior aeroporto do hemisfério sul. Temos que trabalhar comGuarulhos sempre trabalhando alguns anos a frente”, avaliouGaudenzi.

Segundo aassessoria de imprensa do Ministério da Defesa, ainda nãohá uma posição técnica sobre a opçãoque será adotada para resolver os problemas de Guarulhos, maso governo está estudando diversas alternativas.

Na últimaquarta-feira (14), o ministro da Defesa, Nelson Jobim, informou quenesta semana haverá reuniões para decidir sobre aconstrução da terceira pista do aeroporto de Guarulhos,em São Paulo, e também sobre a instalaçãode um terceiro aeroporto no estado.