Movimentos sociais devem valorizar trabalhos já desenvolvidos na comunidade, afirma ativista

30/10/2007 - 16h02

Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Os movimentos sociais nas favelas podem voltar a crescer adotando estratégias contínuas e cautelosas, apesar do enfraquecimento sofrido desde os anos 70. É preciso, entretanto, que esses movimentos levem em consideração projetos e iniciativas que respeitem as diversidades de cada região e os trabalhos feitos anteriormente pela comunidade. A avaliação é de Antônio Carlos Firmino, da Entidade Ação Social Padre Anchieta que atua há mais de 40 anos na área de educação infantil da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro.Ele participou hoje (30) do seminário Favela é Cidade, realizado no Rio de Janeiro. De acordo com Firmino, o contexto de violência fez com que muitas pessoas que atuavam no movimento social, cerca de 300 na Rocinha, ficassem paralisadas desde os anos 90. Segundo ele, o movimento vem sendo minado pelo tráfico, pelas milícias, pela polícia e pelas organizações não-governamentais (ONGs) que muitas vezes chegam com pacotes prontos de ações sociais sem respeitar a realidade local da comunidade.Firmino defendeu estratégias cautelosas para os movimentos sociais. Para ele, é necessário retomar e integrar as iniciativas que já existem na comunidade.“É um trabalho de formiguinha. É preciso retomar, valorizar o que já acontece nas comunidades e saber como conectá-las, não para dar visibilidade, que às vezes é se colocar numa alça de mira. Mais vale fazer um trabalho de formiguinha, passo a passo, analisando bem”.Ao participar do seminário, a pesquisadora Silvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, destacou o surgimento de grupos jovens ligados à arte, música e cultura nas favelas, como o AfroReggae, no Rio, e os Racionais, em São Paulo, como uma nova expressão social das comunidades de favelas.Para Ramos, embora os grupos não sejam representantes instituídos dos moradores, eles foram responsáveis pela construção de um novo ator político no cenário brasileiro, o jovem de favela.

“São jovens mediadores, tem um papel-ponte muito importante entre o que se passa na vida da favela e os diálogos com a mídia, com as universidades, com os governos na primeira pessoa. Não há ninguém falando em nome deles. Eu não diria que eles representam os jovens da favela, mas o mais importante é o que eles representam para a vida das cidades, para essa década atual, para essa geração. Hoje não dá para pensar em cultura, em respostas para a violência, políticas para a juventude, sem incorporar esses segmentos”.A pesquisadora também destacou o papel desempenhado pelos grupos na produção de novas imagens e representações sobre a favela. “Aquele menino da favela com boné, suas roupas características, não só não é traficante, como é contra o uso de drogas e está tentando fazer um trabalho social, então constrói outras imagens, tanto é que muitos jovens das favelas se identificam com esses grupos e vêem neles uma inspiração para ter uma trajetória de sucesso sem ter a ver com o tráfico”.De acordo com Ramos, as principais características dessa nova forma de expressão social, diferente das ONGs que ganharam expressão na década passada, é a ligação com o mercado para fins lucrativos, o investimento nas trajetórias pessoais dos envolvidos, a forte relação territorial com as suas comunidades de origem e os compromissos com a temática racial e as denúncias de desigualdades. “Eles reafirmam o orgulho de ser negro e de ser da favela”.