Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A operação Ouro Branco da Polícia Federal, que desmantelou um esquema de adulteração de leite em Minas Gerais, levantou dúvidas sobre o produto vendido ao consumidor. Especialistas avaliam positivamente a qualidade do leite produzido no país, mas recomendam ajustes na legislação e na fiscalização.Coordenador do Laboratório de Análise de Qualidade do Leite da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Leorges Moraes da Fonseca afirma que o leite brasileiro tem boa qualidade, apesar da necessidade de avanços no processamento. “Se compararmos a qualidade do leite do Brasil com outros países, evidentemente temos ainda uma longa estrada a percorrer, mas, por outro lado, conseguimos uma evolução muito boa nos últimos 15 anos”, avalia.Para Leorges, no entanto, existem deficiências na fiscalização do leite. “Um dos principais entraves está na deficiência do número de fiscais do Ministério de Agricultura”, observa. Ontem (29), o ministério anunciou o reforço da equipe de auditores para as inspeções nas empresas e cooperativas de leite.Doutor em Ciência dos Alimentos e coordenador de Pesquisa do Instituto de Laticínios Cândido Tostes, Paulo Henrique Fonseca da Silva diz que o leite industrializado não enfrenta grandes problemas de qualidade porque passa por testes antes de ser processado. “Todo o leite que é admitido numa indústria de laticínios tem de passar por uma bateria de testes para comprovar a qualidade”, destaca. Segundo ele, a fiscalização do Ministério da Agricultura é a mesma para o leite pasteurizado, vendido em saquinho e que necessita de refrigeração, e do leite tipo longa vida, de caixinha.Paulo, no entanto, afirma que os padrões de qualidade podem ser melhorados com mudanças na legislação que aumentem o rigor com o leite cru, que serve de matéria-prima para as indústrias. Ele cobra a assinatura de uma portaria que regulamentará o mercado leiteiro nacional.Elaborada em 1998 pelo Ministério da Agricultura, a Portaria 56 ainda não foi assinada. “Essa portaria trata da matéria-prima, não do produto final. Tanto o leite pasteurizado quanto o longa vida seriam beneficiados por um programa que incrementasse a qualidade da matéria-prima”, comenta.Ontem (29), o Ministério da Agricultura anunciou medidas para aumentar o rigor da inspeção e do controle do leite vendido no país. Uma das ações é o aumento no número de auditores para fazer as inspeções e a realização de fiscalizações surpresa. Para evitar que os próprios fiscais facilitem as fraudes, foi extinta a figura do auditor fixo das empresas ou cooperativas de leite. A escolha, a partir de agora, será aleatória.