Entrevista 1 - Para economista, desenvolvimento exige tripé econômico, ambiental e social

28/10/2007 - 18h47

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Considerado um dosmaiores pensadores do desenvolvimento sustentável no mundo, oeconomista polonês Ignacy Sachs é categórico nadefesa da ampliação dos aspectos sociais na perspectivado chamado desenvolvimento sustentável. "Precisamosser triplamente ganhadores, nos âmbitos social, ambiental eeconômico", avalia Sachs, diretor do Centro de Estudossobre o Brasil Contemporâneo na École de Hautes Étudesen Sciences Sociales, em Paris, na França. Na sua avaliação,a redução das emissões de gases do efeitoestufa, considerados causadores do aquecimento global, nãopode ser feita visando somente retornos econômicos: "Épossível aliar projetos que reduzam carbono com projetossociais. Não é alugando florestas que vamos resolver oproblema".O economista falou àAgência Brasil durante a primeira reunião doPainel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, nasigla em inglês) na América Latina, que reuniu membrosdo painel e ambientalistas no Rio de Janeiro nas últimasquinta e sexta-feira (25 e 26).AgênciaBrasil: Desenvolvimento sustentável é só umaquestão ambiental?Ignacy Sachs: Não.Eu prefiro falar de um desenvolvimento socialmente includente eambientalmente sustentável e, ainda, economicamentesustentado. Como um tripé: aspectos ambientais, sociais eeconômicos.ABr: Faltavalorizar a parte social nesse tripé?Sachs: Não queesteja faltando. Mas existe o perigo do lado ambiental ser dissociadodo lado social porque, do ponto de vista da eficiênciaenergética, da emissão de gases do efeito estufa,podemos ter os mesmos efeitos para modelos sociais totalmentediferentes. Para mim esse modelo social não éindiferente. Vamos recolocar no debate não só osimpactos ambientais, mas os contextos sociais nos quais odesenvolvimento deve acontecer.ABr: Estáem curso uma mudança de paradigmas na discussão dedesenvolvimento sustentável?Sachs: O pontode partida é que se considera – por razões erradas –que a única coisa que realmente vale é o crescimentoeconômico e o resto segue. A tomada de consciênciaecológica serviu para mostrar que as coisas não eramassim, que o econômico não pode ser discutido abstraídodos impactos ambientais, porque podemos ter um crescimentopredatório, comprometer o futuro etc. Portanto, o debateambiental serviu para mostrar os limites do economicismo.Dooutro lado, simetricamente, estão os impactos sociais. Quandoa gente coloca a problemática social, outra vez mostra oslimites do economicismo. Eu diria que – no campo das idéias– o que está acontecendo desde começo dos anos 70 éuma superação do economicismo por meio doreconhecimento da importância dos impactos ambientais esociais. Quando só se fala dos ambientais, eu grito:calma! Quando me encontro com grupos de sociólogos que sóvêem o social, eu digo: não esqueçam o ambiental.Nós temos que reequilibrar o debate e nos dar conta do fato deque a solução verdadeira é aquela que permiteavançar simultaneamente nas três dimensões: nosocial, no ambiental e no econômico.ABr: A quem cabeexecutar ações para alcançar esse equilíbrio?Sachs: Cabe atodos. Temos que reconhecer o papel importante do Estadodesenvolvimentista, mas devemos, ao mesmo tempo, procurar que oprocesso de desenvolvimento seja negociado e pactuado entre todos osprotagonistas, ou seja, é uma negociaçãoquadripartite: Estado, empresários, trabalhadores e sociedadecivil organizada.Leia o segundo trecho da entrevista.