Centralização do atendimento é problema destacado na conferência de Saúde de Sergipe

27/10/2007 - 19h33

Keite Camacho
Enviada especial
Laranjeiras (SE) - A rede públicade saúde do estado de Sergipe não atinge hoje 100% dosseus habitantes. É o caso daqueles que moram na regiãodo sertão e do Baixo São Francisco. Esse é umdos problemas que foram trazidos para a Conferência Estadual deSaúde, realizada no município de Laranjeiras, a 20quilômetros da capital Aracaju. Representantes do governo, detrabalhadores e de usuários do sistema de saúdediscutiram propostas a serem encaminhadas à conferêncianacional do setor, marcada para novembro, em Brasília.“A saúde emSergipe está centralizada na capital. É Aracaju que dásuporte a todo o atendimento médico especializado. No interiordo estado também não existem hospitais regionais paraatender à demanda local. Quem precisa ser atendido éencaminhado ao Hospital João Alves, em Aracaju, que acabasobrecarregado”, reclamou João Augusto de Oliveira, doSindicato dos Médicos e representante dos trabalhadores naconferência.A agente de saúdeLúcia de Fátima, representante dos usuários,reivindicou uma revisão no sistema de marcaçãode exames. Segundo ela, os pacientes aguardam de três a seismeses na fila. “Os exames vão se avolumando e a saúdedo paciente também acaba se complicando”, disse.Foram dois dias deconferência. No primeiro, houve apresentação demúsica, de projetos e distribuição decomputadores a conselhos municipais e ao estadual de Saúde,doados pelo Ministério da Saúde, em parceria com oconselho nacional. No segundo, ocorreram os debates. Durante oevento, foram também denunciadas irregularidades, como a deuma criança de 11 anos credenciada como delegado.“É lamentávelque fatos dessa natureza ocorram. A gente tem que ver como foidiscutida a saúde pública nesse município. Se defato ela [a criança]vai ter possibilidade de discutir problemas que a gente sabeque o nosso estado está enfrentando”, comentou o coordenadorestadual dos Conselhos de Saúde de Sergipe, Givon Alves Neo.Depois da queixa, acomissão organizadora da conferência encaminhou acriança para casa por considerar que, legalmente, ela nãoresponde por seus atos.Já o presidenteda Central Única dos Trabalhadores (CUT) no estado, AntônioCarlos Góis, observou que as temáticas programadas nãoseguiam o que foi proposto pela a Conferência Nacional deSaúde. “Vou encaminhar uma representação aoconselho nacional [de Saúde]. A ausência doseixos definidos na conferência nacional mostra o interesseclaro de gestores estaduais em não querer aprofundar osdebates e discutir as polêmicas que se colocam na definiçãoda política pública de saúde”, disse.O presidente doconselho nacional, Francisco Batista Júnior, esteve naconferência estadual e também apontou essairregularidade: “Percebemos que os eixos temáticos,aprovados pelo conselho nacional e que estão norteando osdebates nas conferências municipais e estaduais, nãoforam obedecidos nessa conferência”, afirmou.Segundo Batista Júnior,é por meio do que foi estabelecido que seria possíveldebater e avaliar todos os temas que dizem respeito ao Sistema Únicode Saúde (SUS). O objetivo das conferênciasestaduais é levar para a nacional contribuiçõeslocais que possam virar políticas públicas para ospróximos quatro anos. Mas, diante do problema, as propostas deSergipe podem não ser incluídas no relatório daconferência nacional. “Pode haver prejuízo com apossibilidade de não inserção das propostasaprovadas pela conferência estadual de Sergipe no relatórioda conferência nacional. Um prejuízo da participaçãodo estado no debate maior de enfrentamento das dificuldades dosistema estadual”, disse Batista Júnior.A relatora daconferência, Kathleen Teresa da Cruz, contestou. Segundo ela, oque há é um aprofundamento dos eixos da conferêncianacional, que são transversais aos daconferência de Sergipe. “É só uma questãometodológica. Na sistematização, vamos seguirexatamente o que a conferência está propondo”, disse.