Reunião entre comissária da União Européia e CNA termina sem avanços

15/10/2007 - 18h31

Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O primeiro contato entre a União Européia (UE) e representantes do agronegócio privado brasileiro hoje (15) em Brasília terminou sem avanços práticos. Como a visita não tem caráter operacional, nada pôde ser acertado entre a comissária de Agricultura e Desenvolvimento Rural da UE, Marianne Fischer Boël, e a Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA).Segundo o presidente da CNA, Gilman Viana, os principais temas que representam entrave entre a UE e o Brasil na Rodada Doha constaram da conversa com a comissária. Os subsídios para a agricultura doméstica européia (que, segundo o Brasil, prejudicam a exportação dos produtos agropecuários dos países em desenvolvimento) e as cotas tarifárias (sobretaxas para mercadorias que ultrapassem determinado limite de entrada na UE) foram alguns dos principais pontos abordados no encontro.“Embora o país venda barato, o consumidor europeu não paga barato por causa das tarifas aplicadas aos produtos brasileiros quando chegam à Europa”, reclamou Viana. “E o preço mais alto pago pelos europeus não chega ao produtor brasileiro.”Apesar de esses assuntos terem entrado em debate, nenhuma providência prática foi tomada. “Os assuntos comerciais afloraram, mas a visita foi de cortesia”, explicou Viana. “Nada veio a ser decidido porque a reunião não tem poder negociador.” A comissária foi recebida pela CNA acompanhada do chefe da delegação da Comissão Européia no Brasil, João Pacheco, e de representantes de entidades do Fórum Permanente de Negociações Agrícolas Internacionais.Sobre a Rodada Doha, o presidente da CNA afirmou que a discussão foi superficial e que o entrave permanece. Um dos obstáculos nas negociações é a redução dos subsídios agrícolas por parte dos Estados Unidos e da UE e a diminuição das tarifas de importação no setor industrial por parte dos países em desenvolvimento. O ciclo de negociações começou em 2002 no Catar e deveria ter terminado no final de 2004, mas, até hoje, os debates não avançaram.O acordo comercial entre a UE e o Mercosul também entrou na pauta de discussões. No entanto, Viana afirmou que as conclusões também foram pouco animadoras em relação ao tema. “As negociações permanecem congeladas e o assunto, por enquanto, está esquecido”, declarou.Mesmo inconclusiva, a reunião, avalia Viana, pode resultar em benefícios para o Brasil. “É muito aproveitável um diálogo desse porque a gente coloca os dados na mesa”, disse o presidente da CNA. Durante o encontro, ele afirmou que as vantagens do Brasil no comércio agrícola internacional vem da evolução tecnológica. “Em 15 anos, aumentamos a produtividade no campo em 120%”, destacou.Em relação à pecuária, Viana também destacou o uso da genética para melhorar animais e a alimentação do rebanho brasileiro com o pasto natural, que previne o Brasil de ser acometido pelo mal da Vaca Louca, transmitido ao gado pelo consumo de ração animal contaminada. Esses fatores, explicou, contribuem para que as exportações do agronegócio nacional encerrem o ano com US$ 55 bilhões, reflexo principalmente da venda de carne brasileira para países UE, Rússia e Oriente Médio.Para o presidente da CNA, o livre-comércio trará benefícios ao agronegócio brasileiro. “O setor tem grande espaço a crescer internacionalmente. Somos competitivos, temos qualidade, o que nem sempre é reconhecido pelos países desenvolvidos. Podemos expandir a qualidade, desde que as regras de acesso não sejam regras da pobreza. Sejam regras da renda”, destacou.Marianne Fischer Boël segue em visita ao país até o fim desta semana. Hoje à tarde (15), ela conheceu a sede da Embrapa Cerrados em Planaltina (DF), a 30 quilômetros de Brasília. Nos próximos dias, ela visitará a Associação Brasileira de Criadores de Zebu, em Uberaba (MG). O itinerário inclui ainda diversos municípios nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. A comissária também visitará usinas de etanol e lavouras de cana-de-açúcar.